quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

De roupa nova


Vestiu roupa nova. Um novo shampoo para os cabelos e um creme antirrugas maravilhoso. Novos dentes, novo sorriso. Era visivelmente mais bela. 
Vestiu-se de amor.  Haviam flores estampadas na pele que brilhava de saúde. Encobriu-se de perdão e pôde constatar que não existe maior alívio no mundo que encostar a cabeça no travesseiro sem mágoas ou rancores no coração. Era livre.
Estava vestida com a paz interior. A nova roupa de seu coração era realmente bonita. Tinha liberdade para sentir sem esperar nada em troca. A sinceridade tocou sua alma de forma tão profunda que não importava se outros acreditavam. Ela acreditava. Deus acreditava. E viraram amigos.
Nas muitas conversas diárias ela pedia pelos seus, por quem não era mais e por aqueles que não gostavam de sua forma de vestir. O desejo era roupa nova para todo mundo. 
As cores dos sapatos eram claras e a cada passo a calçada se iluminava. Eram sapatos especiais. Pequenas borboletas coloridas acompanhavam sua caminhada atraídas pelo perfume suave que emanava. Lembrava verbena. 
Chovia ainda, mas uma chuva morna que só faziam os pés deslizarem mais facilmente pelos caminhos. A turva tempestade havia passado. Alguns buracos escuros surgiam, mas os anjos – pequenas borboletas coloridas – evitavam que tropeçasse.
Não sabia o destino final, mas desejava continuar caminhando. Levar roupa nova e distribuir perfume pelos caminhos. De alguma forma, sentia que valeria a pena.