segunda-feira, 20 de maio de 2013

Começo


Naquela noite gelada me dei conta do tamanho do amor que eu tinha por aquele cara. E do tamanho da encrenca que tinha me metido.
Madrugada, eu e os lençóis amassados, tamanha pressão dos meus dedos pela angústia de não conseguir negar. Eu tava ferrada. Absoluta e encantadoramente apaixonada por aquele moço dos cabelos macios.
O lance de curtição não alimentava mais. Eu queria ele pra mim. Mas essa bendita fase da pegação é muito complexa.
A gente tem certeza que o cerco fechou quando tudo é bonito. E nele tudo era. Um corpo onde todo centímetro foi cuidadosamente moldado pela beleza. Até o silêncio dele era bonito... a mudez dos olhos dele me olhando era embriagantemente linda.
E os dias passaram a ter poesia sem razão. O cheiro da poluição, a luz queimada do poste... o lirismo tomou conta até das bolhas dos pés machucados pelo sapato novo. Tudo bem cafona, mas doce e verdadeiro.
Ele colocou delicadas rimas nos meus dias. E eu, a mais individualista das almas, comecei a ver sentido em dividir o cobertor. Quando necessário, aliás. Porque nosso emaranhado de corpos aquecia o suficiente. E as noites geladas não petrificavam mais. Pelo menos, não nos finais de semana. Havia um acorde harmônico ali que era viciante.
De repente me peguei fazendo rima com os dias a espera do meu cobertor vivente. A cada segunda-feira. E de novo. Sempre da forma mais estúpida, poética e apaixonada possível.
Um brinde aos poetas estúpidos e apaixonados. Tô bem feliz com isso.