domingo, 22 de julho de 2012

Vícios e Verdades

Eu aqui ouvindo blues e pensando em você. Um blues melodioso-chatinho que atordoa um pouco mas de alguma forma me prende. E não desligo o som. Ele embala os caminhos tortos do pensamento meu que é teu agora. Tem sido, aliás. O gosto do whisky é ruim então troquei por conhaque. Com leite, porque não tenho bebido muito. As pernas no encosto do sofá, a xícara na mão e a música chata tocando... lembrei do nosso começo. Tão forte, tão dilacerante. Um dia longe jorrava sangue do peito. Sangue que gritava saudade. E os encontros  transformavam dois em um. Era suor, peso, falta de ar, saliva, aceleração... Urgência... Uma refeição de dois famintos que não se davam ao trabalho de mastigar. Não tinham tempo. Forrava-se o estômago e com um menu sempre irresistível. Mas vinha a congestão. Sempre vinha a congestão.
O peito apertava de dor pela pressa. Tinha dor. Arrependimento. Tinha promessa de dieta. E nos riscamos da lista de consumo tantas vezes... E tantas vezes voltava a fome, vontade, desejo, saudade... a sabotagem da restrição. E nos consumíamos de novo. Tantas vezes.
E pela nossa saúde optamos pela distância. Passou o tempo e hoje não lembro mais o gosto da tentação. Foi um período com substâncias ilícitas. Vício ruim que a gente amava.
Essa música tocando notas que desenham tua fome me trouxe uma abstinência leve. Acho que uma curiosidade pra saber de você. O que tem feito ou com quem tem se tratado... O tempo fez com que o indispensável se tornasse excentricidade. E eu tenho ficado mais comum cada dia que passa.
Vou desligar o blues. Minha bebida acabou e é melhor parar por aqui. A idade nos dá certas ponderações, tenho tratado melhor meu corpo... minha alma e meu coração. Ao menos não doem mais, como antes. 
Parei com o exagero em devorar bobagens.

domingo, 15 de julho de 2012

Novo Velho Amor Simples

Chega perto, moço novo
Se acomode em meu lar
É simples, é velho, cansado
Mas tem ainda algo pra dar

Meu sorriso é de nervoso
Não esperava ser assim
Um tremor nunca sentido
E um bem querer que não tem fim

Eu escrevo mais finezas, moço
Mas teu sorriso me avecha
Tudo que sai são letras bobas
Da idade do arco e flecha

Vem, toca amor na viola
Que eu já preparei nosso leito
Fala umas bobagens pra rir
E deixa teu perfume em meu peito

Moço novo, não assuste
Que eu não quero anel no dedo
Pega a cuia, tira a bota 
Só vive o amor quem não tem medo