quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Enquanto ele dormia...

Eu adorava vê-lo dormir. Não sei por que, mas adorava. Era um sono cândido e simples. Um momento que o homem forte, se transformava em um menino frágil. Aquilo era tão lindo.
Ele virava de lado, elevava um pouco a cabeça e colocava uma das mãos embaixo do travesseiro. Suas pernas às vezes se entrelaçavam, não gostava muito de cobertor.
A sua respiração tinha um cheiro bom. E seus lábios ficavam levemente fechados, quase esboçando um sorriso. Os cabelos desarrumavam e formavam uns cachinhos engraçados.
Ele dormia rápido. Mal começávamos conversar e ele pegava no sono. E eu gostava disso. Esperava o dia todo pra ver aquele homem dormir, tão entregue, tão humano, tão meu...
Às vezes ele se virava pra cima e mexia um pouco no rosto. De vez em quando despertava e me flagrava velando seu sono. Me olhava com aqueles olhos castanhos semi abertos e não dizia nada, só sorria e voltava a dormir. E eu ali, só olhando e pensando que meu mundo inteiro batia dentro daquele peito.
Aproveitava cada minuto pra admirar toda a geografia dele. Descobri detalhes tão bonitos. As marcas do tempo já estavam em seu rosto, a pele era tão macia e os pelos do corpo pareciam estrategicamente posicionados, adornando-o. Como era bom sentir o ar quente daquela respiração. Era como meu oxigênio pra respirar também.
Amanhecia... eu me pegava acordando sozinha na cama. Mais um dia de espera... esperar anoitecer pra eu ver de novo o sono mais lindo desse mundo...  

domingo, 26 de dezembro de 2010

Evolução...

Tenho andado confusa. O mundo me atordoa e me efervesce as idéias. Dúvidas. Certezas. Desejos e medos assombram minha tenebrosa mente, cada vez mais fértil, e insana. Cada dia mais certa do que quer, ou não... impulsiva.
Me sinto colocando os pudores de lado. Até para ser sensata é preciso ter bom senso. E eu corro. Corro em busca de respostas que sei que jamais virão. E outras que já estão aqui, esperando minha coragem para absorvê-las.
Me tornando mais forte. E frágil. Resolvendo os problemas do mundo e implorando para alguém me trazer o mundo com um abraço. Chorando, sofrendo... Me surpreendendo com minhas descobertas e rindo da minha instabilidade.
Na busca incansável de uma liberdade utópica que ao mesmo tempo me faz querer ser presa. Presa à minha perdição, que me devora a alma e me transporta ao nirvana com a velocidade do pensamento. É emoção, evolução, ebulição...
E dentro da minha loucura comum, me entrego aos delírios secretos. E queimam. E sobem ao cérebro, e ferem. E me trazem cada vez mais questionamentos, me tornando grande diante de mim, e pequena diante do mundo.
Desse tornado alienador só uma certeza: nunca vou me conhecer. Pra falar a verdade, acho que nem quero. O mistério me excita...


quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Aleluia irmão!

Um fato estranho que aconteceu comigo hoje a tarde me inspirou a fazer esse post.
De repente, uma pessoa com quem convivi algum tempo aparece um tanto transtornada e absolutamente fanática por sua nova vida. Sua nova religião. Chegou praticamente aos berros, gritando a "palavra do Senhor" e deve ter "evangelizado" (sim, porque aquilo não foi uma conversa) por cerca de duas horas seguidas.
Não aguentava mais aquele papo. Estava cansativo. E não se podia argumentar em nada. A "palavra" dela sempre tinha razão. E ponto.
Perei pra pensar no que tem se transformado as religiões hoje em dia. Não quero entrar em polêmicas nem desrespeitar nenhuma crença, mas será que as pessoas não percebem que através de pregações intermináveis não é possível converter ninguém?
Eu não confio em grupos que se acham donos da verdade e só aceitam seu Deus como verdadeiro. Deus é um só, e está presente em todos os lugares em que verdadeiramente O aceitam.
Quantos líderes religiosos vemos envolvidos em escândalos, pedofilia, corrupção... E não nos damos conta que o vizinho, trabalhador que nunca foi à igreja tem uma índole inquestionável e o coração livre de certos preconceitos.
Gritar no ouvido do cidadão, ameaçando que ele vai arder no mármore do inferno caso não aja como o "grupo", é extremamente repugnante. Se envolver quantias exatas de dinheiro, pior ainda. Ok, ajudar a comunidade a qual pertence, acho louvável. Mas tenhamos bom senso, please.
Pra mim, a melhor maneira de tocar o coração de alguém é através das atitudes. O bom exemplo ainda é o melhor modo de inspirar as pessoas. Portanto senhores evangelizadores, falem menos e ajam mais. E atitudes de acordo com as que prega, porque a máxima "faça o que eu digo mas não faça o que eu faço" não cola muito em quem se diz de Deus, né? E muito pior que andar "no caminho do mundo", é fazer isso durante o dia, e depois bancar o puritano na igreja, durante a noite.
E ponto final.

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Feliz Ano Velho!

É chegada a hora! Dia 31 de Dezembro, 23h30... Logo logo começa a contagem! "Liga a TV pra gente ver os fogos em Copacabana!" 10... 9... 8... 7... 6... (e os dez segundos mais longos do ano inteiro!) enfim: FELIZ ANO NOVOOOO!!!!
Abraços, votos de felicidades, brindes, promessas... E o ano começa, e tudo é esquecido. Voltamos ao stress, ao sedentarismo, viramos novamente a cara com a prima (sim, porque só no dia de ano novo que você se permitiu um abraço naquela lá). E o velho ano novo recomeça.
Se a mudança não for real, não vier de dentro, sorry, mas tudo continuará absolutamente igualzinho no mês passado. O virar do relógio da meia noite para meia noite e um não fará você ser uma pessoa melhor. É preciso atitude! E individual. Sim, porque não podemos mudar o mundo. Mas começando por nós mesmo já é uma grande coisa.
Esse ano eu aprendi que depositar a felicidade em outra pessoa é o caminho mais curto para a infelicidade. Que não posso mudar ninguém (por mais que eu queira). Aprendi que algumas convenções são hipócritas e me permiti viver com menos preconceitos. Comecei a gostar de tomate seco e de funghi. Percebi que correr atrás da felicidade é mais difícil que eu pensava, mas o caminho é delicioso. Redescobri paixões antigas (escrever foi uma delas) e experimentei novas paixões. Decidi não mais abaixar a cabeça para o que vai contra o que eu penso. Aprendi também que cada pessoa tem seu tempo e que é preciso respeitar isso. Esse ano eu descobri o quanto posso ser intensa, e o quanto posso ser fria. Amei muito. Bebi pouco. E conheci pessoas especialíssimas que serão eternas.
Como todo mortal também tenho algumas metas para o ano que vem: abraçar menos o mundo; exercitar a paciência (isso tem que ser diário, porque tá f*); tentar me preocupar menos; levar a vida mais leve; viajar; estudar; rir mais; dançar mais; beber mais; amar (continuar amando muuuuito); e pensar mais em mim, essa é a minha principal promessa de ano novo, cultivar um pouco do egoísmo em prol do meu bem estar e dos que me cercam também.
Mas não vou escrever uma listinha e dar um "ok" em item por item. É um processo natural, de evolução humana. A mudança vem de dentro, e desde já. Não é preciso esperar dia 01 de Janeiro para começar por uma nova estrada. A vida é uma constante, o mundo muda toda hora e o tempo é precioso demais pra nos darmos ao luxo de desperdiçá-lo com um: "ano que vem eu começo". O verdadeiro ANO NOVO está aí dentro, e pode começar quando você bem entender.
E então, bora arregaçar as mangas?
Salute!

Bonequinha...

De repente descobri que aquilo tudo não era real. Que aquela delícia de amor não passou de uma brincadeirinha de criança. A dor da decepção é uma das piores, sabia? Perceber que eu viajei na maionese, e criei expectativas em cima de uma relação de mentira, dói demais.
O problema é que eu estava muito alto. Naquela nuvem mais macia, tocando harpas com os anjos. E quando abri os olhos não tinha mais a sua companhia, na verdade, nunca tive. Era ilusão. Miragem.
Caí da nuvem. E lá embaixo, ninguém pra me segurar. A queda machucou muito. Deixou marcas. E então eu fico me martirizando com a sensação de ter bancado a idiota.
A idiota que por muitas vezes se sentiu um brinquedo. Uma bonequinha. Daquelas que você gosta muito, brinca muito, mas logo enjoa e deixa de lado. Então quando se lembra, volta e brinca mais um pouquinho... Só que a bonequinha aqui tem vida. Ri, chora, deseja, ama...
Mas não me arrependo. Se amei demais, é porque tenho grandiosidade pra isso. Se te coloquei em um patamar de grande importância, é porque achei mesmo que você merecia. Aliás, sou até grata. Você me permitiu experimentar sensações únicas. Graças a você, percebi que sou capaz de devotar o mais puro sentimento com uma intensidade absurda.
Porém, acho que eu mereço um pouco mais que segundos diários de atenção. E não, não estou mesmo a fim de saber os motivos da tua ausência. As palavras já se tornaram pobres demais, e eu decidi que a partir de agora só me iludo com atitudes.
Tenta se esforçar mais na próxima. Toda mulher, por mais durona que seja, sempre quer um pouco de carinho. E toda bonequinha, principalmente as mais frágeis, precisa de mimo, cuidado... e de muitas tórridas noites de amor.


Kisses...

domingo, 12 de dezembro de 2010

É Natal, né...


Ok, sei que é clichê escrever sobre as festas de fim de ano nessa época, mas... não deu, sorry, eu não consigo segurar minha língua e não falar desse manicômio gigante que a cidade se transforma nessa época de "luz"...
E haja luz hein! É luz pra KCT!!!! Se os gastos extras com energia elétrica da cidade fossem convertidos em benfeitorias à sociedade, teríamos maiores condições de ajudar o próximo, e não apenas quando o "espírito natalino" resolve baixar na geral.
As pessoas ficam (ainda mais) apressadas. Parece que uma ansiedade coletiva atinge os mortais feito uma praga. "Trabalhei o ano inteiro, agora eu mereço gastar um pouquinho." O mais interessante é que geralmente os gastos são pagos só quando o rico dinheirinho desse ano inteiro de labuta já acabou. Daí fica pro cartão, que se estiver no dia bom, paga só ano que vem. É, em Janeiro mesmo, aquela delícia de mês que degola o orçamento de qualquer um com os IPs da vida, material escolar, etc. Bom, mas pra que pensar nisso gente, é Natal!
São listas intermináveis de "lembrancinhas", inclusive para aquela vaca da irmã do seu cunhado que dá em cima do seu marido, mas... vai ficar chato deixar a piriguete sem presente. E também, é Natal, né...
Os shoppings são um circo a parte. Gente, muita gente. Fila, muita fila. Stress, muuuuuito stress. Não foi ainda, amigo? Na boa, vá a pé. A menos que queria fundir o motor do carro rodando (a 2 km por hora) atrás de vaga no estacionamento. Ops, não encontrou a vaga? Ahh, coloca ali no cantinho mesmo, em cima do meio fio, esquenta não, as pessoas vão entender, afinal, é Natal, né... E não esqueça as crianças! Compras de Natal não são compras de Natal sem os pequenos adoráveis por perto, que aliás, ficam os últimos dez dias do ano em um esforço sobre humano pra se mostrarem comportados e ganharem o presente daquele velhinho esquisito que parece nunca sentir calor... (só pra constar: eu gosto de crianças, porém, prefiro manter uma distância segura delas, ok?).
Não quero entrar na questão de que o Natal perdeu seu real significado, que virou comércio, etc etc etc... Mas me incomoda esse moralismo barato que permeia as mentes nessa época. Temos que ser legais por obrigação? E se eu quiser levar um presente a uma criança carente em Março? E se eu não tiver a menor vontade de desejar pazamorsaudesucesso ao meu chefe? Pior, e se eu assumir que DETESTO peru? Não vai adiantar nada, porque independente dos meus pitis, o Natal vem. Nem que seja uma vez por ano.
E quando chega a grande noite... Um mundo de comida (que deve ser requentada a semana inteira), biritinhas que ainda serão a ruína da festa, e o amigo secreto... Ahh, o amigo secreto! O tio tirou a sobrinha precoce que já estuda semiótica, e a "presenteia" com o DVD do Luan Santana. O pai palmeirense, pela décima terceira vez ganha aquele copo com o escudo do time. As crianças (de novo, os anjinhos) gritam alegremente - em um tom vocal inalcançável - ansiando pela abertura dos presentes. Enquanto isso, o menino Jesus, no presépio sem entender muita coisa...
Mas... é Natal, né...
Besos!

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

No mesmo ritmo.

Era uma vez uma princesa... Uma princesa que estava entediada com sua vida no castelo e um belo dia decidiu sair...
A princesa saiu sem falar nada pra ninguém, não havia nada demais afinal, era só um passeio. Porém ela andou muito, e acabou saindo dos limites de seu reino. Fora dali, de seu eixo, ela já não sabia mais o que poderia encontrar. Mas gostou da sensação de medo e excitação que estava sentindo.
De repente começou a chover. Muito. E escureceu. A princesa já não podia enxergar muito bem e não conseguia encontrar o caminho de volta. Numa tentativa de se desvencilhar de galhos e folhas se feriu, um enorme espinho a fizera sangrar. Desesperou-se. Sentou num tronco velho de árvore e pôs-se a chorar. Estava perdida, machucada e com frio...
Então começou a ouvir passos, não muito claros pois o barulho da tempestade não permitia, mas podia escutar alguém aproximando-se. Seu coração quase saltou pela boca. Quem poderia ser?
Era ele. Um príncipe. Estava a pé. Seu cavalo assustou-se com o barulho dos trovões. Ele também estava assustado e perdido. Mas claro, como um verdadeiro nobre, demonstrou coragem e doçura à princesa.
A chuva passou. O machucado da princesa já não sangrava mais. Eles deram as mãos e deciram encontrar o caminho de volta, juntos.
E como essa volta pra casa estava sendo boa. Não se desgrudavam um só minuto. Descobriram coisas em comum. Riam juntos. Era um bem estar que nenhum dos dois jamais havia sentido antes.
No entanto a princesa, ansiosa que só ela, queria chegar mais rápido e, sem perceber, soltou da mão de seu querido e passou a caminhar à sua frente, por vezes até corria. Foi quando olhou pra trás e percebeu que já estavam distantes demais um do outro.
Ela gritava pra que ele corresse. Ele só queria continuar caminhando. Então ela parou. Ficou parada por minutos pensando se valeria a pena diminuir o passo. E decidiu diminuir. Mas a distância entre eles ainda era grande demais. Foi quando ela resolveu voltar... e voltou até o ponto que o príncipe estava. Não falaram nada. Apenas olharam-se nos olhos e deram-se novamente as mãos. Dessa vez ele agarrou com mais força, não queria deixá-la escapar novamente. E seguiram juntos. Sabiam que lá na frente cada um seguiria seu caminho, cada um voltaria a seu reino. Mas optaram por curtir o passeio. Ora correndo, ora andando, mas sempre juntos, de mãos dadas. No mesmo ritmo.

Kisses...

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Me deixa sozinha...

Me deixa sozinha. No meu canto. Só um pouquinho. Só pra eu poder chorar em paz.
Só pra eu ficar ali, agachadinha abraçada ao meu joelho, pensando... pensando e rezando pra tudo isso passar logo.
Deixa eu ficar sozinha até meu rosto ruborescer e meus cabelos molharem nas lágrimas.
Me deixa sozinha pra gritar e desatar esse nó que eu tenho na garganta. Afrouxar esse aperto no peito. E sanar todas as minhas dúvidas. Que são tantas.
Me deixa quietinha só um pouco. Só o suficiente pra eu entender o que tá acontecendo. Ou pra eu entender que nunca vou conseguir entender nada disso.
Me deixa sozinha pra pensar em você. Pensar e chorar e me arrepender. Quero só um tempinho pra mim. Pra tentar compreender por que tudo é tão complicado. Por que não tenho o controle. Por que não fazer o que tenho vontade...
Me deixa sozinha pra sentir ódio de mim. Pra sentir pena de mim. Pra sangrar. Pra sofrer. Eu preciso me ferir ainda mais. Preciso me castigar. E me cobrar. Me cobrar muito, assim como todos fazem.
Quero ficar sozinha pra sentir meus desejos mais secretos sem pudor. Pra pensar em cometer as mais loucas atrocidades. Quero ter o direito de fraquejar, mesmo que por alguns instantes. Poder sentir que o mundo não me pertence.
Me deixa sozinha só um pouquinho. Pra eu me desesperar quando olhar pro lado e não te ver. Me deixa sozinha pra morrer... morrer devagarinho e sorrindo. Me deixa sozinha pra ressurgir.
Quero estar sozinha quando os soluços acabarem. Quando a fresta de luz começar a entrar. Quero olhar no espelho e ver somente o meu rosto refletido, exausto e sereno... com a única certeza de que, na verdade, eu nunca quis que me deixasse sozinha...

domingo, 5 de dezembro de 2010

Tão perto, mas tão longe...

Vidas diferentes. Tempos diferentes. Gostos tão iguais. Assuntos tão parecidos. Risadas, brigas. Tudo tão intenso. Sempre tão próximos e ao mesmo tempo tão distantes...

Próximos eram fogo. Paixão. Desejo. Apropriavam-se como um pedaço de chão. Possuíam-se com tamanha força a ponto de se tornarem um só. Era um só coração, uma só alma, um só gosto de suor, um só timbre de voz. Devoravam-se como se o resto mundo houvesse deixado de existir. Esqueciam-se das obrigações e das realidades. Tomavam-se sem pudor, sem pressa e sem medo das possíveis marcas que permeariam em seus corpos. E marcavam-se.

Distantes, eram abismo. Cinza. A sempre presente despedida vinha acompanhada de generosas doses de dor. Saudade... O choque de vida real trazido pela ausência do toque, do cheiro. A falta enlouquecedora que surgia nos surtos de frieza e de desapego. O ciúme. A desconfiança. A carência extrema e a intolerância. Era vontade demais...

Os corações saltavam a qualquer sinal. Trocavam declarações e farpas. Mesmo longe, sentiam prazer juntos, quase que por telepatia. Ela sabia, ele estava . Ele também sabia, ela sempre estaria . Tão perto, e ao mesmo tempo tão longe...

Bacio!

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Inconstâncias.

Não tinha o hábito de falar o que sentia. Então ela resolveu escrever...

"Tenho vontade de te virar do avesso. De periciar cada cantinho seu pra ver o que tem aí dentro. Quando do alto da minha altivez jamais podeira imaginar alguém tão inconstante quanto eu mesma, você surge da forma mais simplória e acaba com meu sono.
Você faz tudo errado, e no fim acaba acertando. Tem os defeitos mais inaceitáveis e é irritantemente perdoável. Em pouco tempo acaba comigo e com a minha vontade de respirar. E em milésimos de segundo faz me sentir Afrodite reencarnada. Sim, se mamãe não tivesse me dado uma bela educação emocional já estaria na vigésima caixa de rivotril.
E por que será eu gosto tanto de você e continuo te querendo feito louca? Só pode ser esse seu jeito instável... eu me entedio fácil, e sua forma volúvel de conduzir os dias acaba me mantendo interessada. É... deve ser isso. Bom... sei lá, certas coisas não foram feitas para serem entendidas. E essa nossa relação é complexa demais pra definir de uma forma racional.
Confesso que já pensei algumas vezes em cair fora. Dar um tchauzinho e dizer: "foi bom, mas preciso de alguém que me dê mais mimo". Mas é tão difícil desistir de você. É tão difícil resistir a você. Então eu fico aqui, esperando sua vontade. Esperando você me desejar por mais um tempo. Três horas fazendo amor é pouco... Eu quero o lance full time, saca?
Ok, tô levando minha vida, escrevendo um pouco, trabalhando um pouco... pensando em você em cada meia que eu coloco na máquina de lavar. Pensando se hoje vai ser um daqueles dias que você me liga meia dúzia de vezes, ou daqueles que cava uma briga pra ficar longe uma semana. Tendo sempre como consequência a massagem do seu ego de me ver correr atrás todas as vezes, mesmo estando certa da minha razão. E não posso nem desdenhar da sua pretensão, porque vou continuar fazendo... até quando meu amor não for mais suficiente pra isso, ou até quando minhas pernas se cansarem..."

"E te espero. E te curto todos os dias. E te gosto. Muito." (Caio Fernando Abreu)

Besos...