domingo, 30 de outubro de 2011

Amar? Fica pra próxima!

O mundo anda cada vez mais rápido. Anda não, corre. É informação na velocidade da luz. Formamos uma geração imediatista, onde todas as respostas podem ser encontradas no São Google em segundos.
Diante de tanta rapidez, percebo que as pessoas perderam a paciência para o amor. Nunca antes relacionamentos foram tão difíceis de serem mantidos. Por quê? Acostumamo-nos tanto com as instantaneidades que fica impossível parar alguns minutos para uma franca conversa.
Instalados nessa sociedade de idolatria ao ego, ao consumismo próprio e desenfreado, é difícil pensar em  faltar um dia da academia pra fazer um jantar especial àquela pessoa.
Jogos de conquista? Esquece, eles duram pouco mais que alguns minutos. Estamos sem tempo para charme, ligações inesperadas, flores... O lance agora é pular em cima do pescoço do ser desejado, sugar todo o prazer possível e ir embora. Para o próximo. Próximos. Muitos.
D.R. hoje é sinônimo de cafonice. Ele não quer sexo? Melhor partir pra outro. Não há tempo pra entender os problemas que ele tem passado. 
Estamos em uma era doente. O tumor da falta de tempo, quando na verdade preenchemos nossas vidas com coisas cada vez mais vazias. Exige-se muito então devoramos informações, aparelhos tecnológicos, MBAs e afins... Cadê tempo pra fazer carinho nos cabelos dela? Sem tablet ou smartphone nas mãos... Sem se importar com a quantidade de e-mails que estejam chegando...
Tempo pra cuidar da relação, como nós cuidamos da nossa aparência, da nossa posição profissional. Isso é cada dia mais raro, o que tem gerado uma massa de pessoas superficiais e solitárias. Não por vontade própria mas por se deixar envolver na teia de ocupações pseudo-inadiáveis e adiando sempre o que importa, ou quem importa.
Tempo pra cuidar do outro. Conhecer, entender, respeitar. Tudo isso envolve o amor. Ou será que as pessoas acham que o par perfeito é igualzinho, lindo e sem problemas? A individualidade tão pregada beira ao egoísmo: "Problemas seus, são seus. Dos meus eu cuido."
Cumplicidade. Formam-se muitos casais. Mas sem tempo para serem cúmplices.
Então nos veremos com sessenta anos, três casamentos fracassados, fotos de viagens incríveis e um carro bacana. Suspirando sempre uma certa melancolia de que faltou alguma coisa. É, faltou tempo. Faltou amor. Faltou inteligência para perceber que sem isso, o coração fica vazio. E a sensação mais sublime de saciedade que podemos ter é olhar um par de olhos brilhando na nossa frente durante o jantar...

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

O circo


Eu fiz umas boas maluquices pra chamar tua atenção. E quer saber? Por algum tempo você foi o mais empolgado da platéia. Fiz mágica pra poder te ver. Andei na corda bamba pra equilibrar as brigas. Eu fui trapezista pra te impressionar. E te deixar com frio na barriga. Adivinhei pensamentos seus nos meus números de mágica. E te arranquei sorrisos lindos quando me vesti de palhacinha. Nos intervalos você me apertava pela cintura atrás das coxias. E me levava algodão doce... Com o contorcionismo levei amor dos pés a cabeça. E com malabares eu fazia graça pra te mostrar habilidade. A habilidade de equilibrar o amor acima do ciúme na pontinha da cumplicidade. Eu sei, você sempre preferiu meus números sem maquiagem, sem salto, sem roupa... E também fui artista despida. Por você, eu era tudo. Eu fazia qualquer número. Você foi, por muito tempo, o MEU respeitável público... Mas você foi embora antes que o espetáculo acabasse. Não se importou com meu cansaço, nem com a minha dor nos pés. Eu chorei sim, porque a razão da minha arte havia partido e levado meu coração. Mas sou artista meu bem, preciso de brilho. Levanto picadeiro agora, para armar em outro terreno, mesmo sem coração, mesmo sem amor. Vou levar o que aprendi para onde exista um respeitável público que espere as luzes se apagarem. E que me aplauda de pé.

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Enquanto você chora...


Enquanto você chora
Os frutos amadurecem
Os meninos brincam
As árvores crescem
O mundo gira
O Sol não desaparece
A fonte seca
As mãos estremecem

Enquanto você chora
A vida acontece
As músicas mudam
O corpo padece
Às pálpebras incham
O rosto ruboresce
A novela termina
E tantos te esquecem

Enquanto você chora
O coração adoece
O rio faz seu curso
Os jardins florescem
Os olhos embaçam
Você envelhece

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

A dor e a saudade - quem ganha?


Eu acho mesmo que escrever é coisa de gente doida. Gente normal demais nunca tem muita coisa pra contar. Fico aqui imaginando sonhos onde os suspiros fazem frases, que às vezes se atropelam, mas no fim se entendem. E eu sei que sempre vou encontrar motivos pra escrever. Hoje é você, amanhã não sei... Penso que vai chegar o dia em que você não vai mais se ver nas minhas palavras. E eu acho isso tão triste... Mas a tristeza também me inspira então escrevo lamentos até esse maratona acabar. A maratona da dor e da saudade. Elas estão correndo em uma pista chamada vida, sabia? Na minha pista. Na minha vida. O percurso é difícil, mas elas são valentes. Largaram juntas, porém a dor lidera com folga a prova desde o início. Não gosto dela. É minha professora há anos e seus castigos machucam demais. Não quero que ela vença. A saudade embora me faça sofrer, é doce. As duas me ajudam escrever, mas a saudade consegue me trazer alguns nostálgicos sorrisos no rosto. Com a dor são só lágrimas. E essa vida já é difícil demais pra eu querer aprender através de tapas. Quero distância da dor. Prefiro a saudade. E tenho fé, sabe? Estou aqui, na linha de chegada torcendo. E escrevendo. Esperando a saudade superar a dor. E ganhar mais essa prova.

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Dieta de você


Eu como você todos os dias. Mesmo você obstruindo toda a circulação de vida do meu corpo. Entupindo todas as artérias. O mesmo alimento que me mantém viva me envenena. Da garganta não sai mais voz. Das pernas não saem movimentos. No rosto não aparece mais sorriso. São os reflexos de uma alimentação desregrada. Mas eu preciso devorar você. Pra saciar meu vício. Pra me sentir viva. Cada pensamento é uma porçãozinha. Daquelas bem gordurosas e salgadas. Que levam ao êxtase momentâneo mas na madrugada seca a boca. E no dia seguinte seca a alma. Mas você continua sendo meu prato preferido. As fotos são um banquete de festa fina. E eu como feito uma selvagem temendo a abstinência. Cada novo texto é sobremesa daquelas com muita calda que eu ataco igual criança mal educada. Quero levar pedacinhos de você pra casa, como aquelas tias que escondem doces nas bolsas. Eu me alimento da sua imagem todos os dias. Mesmo sabendo que não é saudável. Prometo todas as segundas-feiras começar a dieta de você. Mas a obsessão pela tua presença é irresistível demais e nunca consigo ir além da hora do almoço. E me lambuzo com lembranças e promessas esquecidas. A congestão vem quase sempre, em seguida das flexões desesperadas pra te tirar de mim. Mas eu já comi. Mais uma vez não consigo evitar sentir teu gosto. Eu caio em tentação sempre.


domingo, 2 de outubro de 2011

Na contramão

Eu fiz sim, um texto bonitinho de auto-ajuda dizendo que somos as melhores e nada no mundo pode nos abalar. Mas tô sem saco pra isso. Sem paciência pra esse: querer-poder-conseguir. Nem sempre é assim. 
Eu escrevo pelo direito de ser eu, de me assumir. E escancarar todos os cacos e coisas feias que tem aqui dentro. Escrevo para colocar as interrogações de dentro pra fora. Como se as palavras ao saírem pudessem encontrar algum tipo de resposta.
É um alter-ego rebelde e livre que me deixa menos bonequinha. Faz vez ou outra aparecer um PORRA no meio do texto. Assumir a fraqueza. Os desejos...
Mostra a saudade, a tristeza, a raiva e todos os sentimentos que meninas fortes não podem ter. Mas eu tenho. E faço lindos textos de amor que não posso publicar pra não me mostrar apaixonada. E duros escritos de mágoa que me renderiam uns bons tarjas pretas. A gente não pode tudo.
No entanto, na viagem interna das letras me sinto despida frente a tantos, que por tamanha intimidade insistem na prepotência que me conhecem bem. Darlings, nem eu o sei.
Só sento no tapete mágico das palavras e vou pra longe, ensaiando uma viagem que por covardia ainda não me permiti. Mas que a escrita me permite, colocando aqui um aglomerado de frases e afirmando depois que não são minhas. São obras. Um trabalho.
Só por hoje não vou falar que sofrer não vale a pena. Que sorrir é o melhor remédio. E tantas outras lições coloridas tão esteticamente agradáveis mas empiricamente vazias.
As chaves das algemas eu tenho. O par de tênis também. Agora é só correr. Correr de quem eu era e ir atrás de quem eu sou. O esforço deve valer a pena.