Último capítulo da novela. E nossos olhinhos brilham ao ver os desfechos (comumente previsíveis), os romances, as condenações. O final feliz.
Como o conto de fadas nos fascina! Desde pequenos, fingimos ser super heróis, mocinhas presas na torre... A fuga para o 'faz de conta' é confortável, bonita. E tantas, ahh, quantas vezes transportamos isso para a vida real. Essa vida de muitos capítulos cinzas, duros, de tantas fases sofridas. A gente também quer o mocinho lindo, a família unida, a heroína apaixonada. Mesmo que seja através das lentes de uma realidade aumentada pela ficção.
Choramos, rimos, torcemos com toda força e nos irritamos com histórias que sequer são reais. Somos humanos, ok, sensibilizar-se é normal. E quando é demais? E quando é de menos?
Quando procuramos a perfeição em forma de vivência. E nos frustramos com qualquer brisa que sopre contra. Decepção, dor, tudo acontece de forma maximizada. Amamos demais, sem medida, sem consequência. E o tombo costuma machucar muito.
Ou nos trancamos em uma jaula seca, onde o sentir não é permitido. Vestimos uma armadura na qual cremos cegamente nos proteger de tudo que faz mal, ou faz bem demais. Não sentimos, e se sentimos, forçamos a não sentir. Um mundo frio, vazio, demasiadamente racional.
Duas formas de fuga. Nos transpor ao faz de conta ou ignorá-lo por completo. Excedendo na doçura ou mastigando amargor. Saltar do penhasco e acreditar possuir asas, ou sequer acreditar que exista um penhasco.
Nem armadura, nem contos de fadas. Mas sim, assumir a forma humana com todas suas peculiaridades. Permitir-se errar, amar, julgar e sofrer. Cometer loucuras, consciente delas. Aceitar que nada é pra sempre e que ninguém nos pertence, e mesmo assim desejar ter alguém pra si o resto da vida. É o que nos difere dos animais irracionais, a razão. Está aí pra ser usada, mesmo que irracionalmente.