terça-feira, 20 de novembro de 2012

Ele

Ele que pesa meu peito
Me envolve em teu leito
Que tira meu sono
Ele que salga minha pele
Me marca, me impele
A desejar-lhe meu dono
Ele, sorriso de menino
Com o cabelo tão fino
Que pouco se mantém calado
É dele meu sorriso mais escandaloso
Meu olhar mais carinhoso
E o abraço apaixonado
Dele as palavras formam flores
A saliva traz tremores
Faz a música brotar
Ele que ri das orações
Que defende os corações
Me ensinou que é bom amar

terça-feira, 16 de outubro de 2012

Promissória

É preciso explicar pra cabeça
Poema não põe comida na mesa
Não resolve equação
Nem coloca diploma na mão
Coração não come
Nem estuda... nem trabalha
Vai sempre por rumo
E tira a gente do prumo
Guarda a poesia no armário
Vai pra tua lida
O mundo é de quem se atreve
E barriga vazia nem promissória escreve

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Um pouco de céu

E de repente eu aprendi a me conhecer. Me reconhecer. Decifrar sonhos antigos e descartar velhos gostos. Hoje eu cultuo a simplicidade dos momentos, palavras, pessoas... O valor maior é atribuído pela sensação de pequeno céu que alguns conseguem oferecer. E você me trouxe um pouco de céu. Depois do período tempestuoso, veio o cinza e enfim, as nuvem alvas. Mas o céu mesmo, isso foi você quem trouxe. Lindo, azul... hora enfeitado por pontos brilhantes que despencam vez em quando causando gargalhadas e pedidos; hora claro e quente, como se os olhos enxergassem o calor e levassem ao fundo da alma. E então a alma fica aquecida, com aquela impressão de eternidade doce que a gente sabe que um dia, na verdade, pode passar. Mas dane-se o que a gente sabe. Já banquei a sabida demais e nem sempre com boas pontuações. Talvez, retirando o casaco do orgulho eu possa me permitir errar... e aprender de novo. Nesse pedaço de céu eu aprendo mais depressa. Ou desaprendo, vai saber. Desaprendo a me cuidar, já que em tanto tempo fazendo isso só aconteceu tropeço. Acho que não sou uma boa mãe pra mim. Talvez deva ficar um pouco mais e aprender a ser cuidada. É só um pedaço de céu, mas cabe a gente. Cabem os delírios e algum carinho. De manhã tem café e trânsito. Mas no final do dia, tem um pouco do céu me esperando chegar... e é muito bom saber disso.

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Avesso

Gosto de gente que me cala a boca por me fazer pensar. Que me faz ter dúvidas. Que me faça admitir um engano. Gosto de pessoas que me enfiam o orgulho pela garganta. Que me façam ver um mundo de ideias, e ideais, além dos meus. Do meu mundinho construído. Gosto de gente que destrói. Que vem pra arrebentar conceitos. Quebrar muros. Construir pontes. Eu gosto dessa gente que me acrescenta mesmo me diminuindo. Mesmo fazendo me enxergar pequena. Gosto desses. Desses que criam labirintos no pensar, que fazem confusão dos sentidos. Eu gosto dos que transgridem. E evoluem... Concordar com tudo é fácil, macio. As pernas tremem mesmo, quando somos desafiados. É quando o sangue ferve. Chega aquela pessoa que, em horas, faz repensar toda sua convicção de uma vida inteira. Que incomoda, atordoa. Comprime o estômago, seca a boca, intriga a cabeça. Dá raiva. Gente assim, irrita. Tira o controle. Faz (re)pensar... É dessa gente que eu gosto.

domingo, 22 de julho de 2012

Vícios e Verdades

Eu aqui ouvindo blues e pensando em você. Um blues melodioso-chatinho que atordoa um pouco mas de alguma forma me prende. E não desligo o som. Ele embala os caminhos tortos do pensamento meu que é teu agora. Tem sido, aliás. O gosto do whisky é ruim então troquei por conhaque. Com leite, porque não tenho bebido muito. As pernas no encosto do sofá, a xícara na mão e a música chata tocando... lembrei do nosso começo. Tão forte, tão dilacerante. Um dia longe jorrava sangue do peito. Sangue que gritava saudade. E os encontros  transformavam dois em um. Era suor, peso, falta de ar, saliva, aceleração... Urgência... Uma refeição de dois famintos que não se davam ao trabalho de mastigar. Não tinham tempo. Forrava-se o estômago e com um menu sempre irresistível. Mas vinha a congestão. Sempre vinha a congestão.
O peito apertava de dor pela pressa. Tinha dor. Arrependimento. Tinha promessa de dieta. E nos riscamos da lista de consumo tantas vezes... E tantas vezes voltava a fome, vontade, desejo, saudade... a sabotagem da restrição. E nos consumíamos de novo. Tantas vezes.
E pela nossa saúde optamos pela distância. Passou o tempo e hoje não lembro mais o gosto da tentação. Foi um período com substâncias ilícitas. Vício ruim que a gente amava.
Essa música tocando notas que desenham tua fome me trouxe uma abstinência leve. Acho que uma curiosidade pra saber de você. O que tem feito ou com quem tem se tratado... O tempo fez com que o indispensável se tornasse excentricidade. E eu tenho ficado mais comum cada dia que passa.
Vou desligar o blues. Minha bebida acabou e é melhor parar por aqui. A idade nos dá certas ponderações, tenho tratado melhor meu corpo... minha alma e meu coração. Ao menos não doem mais, como antes. 
Parei com o exagero em devorar bobagens.

domingo, 15 de julho de 2012

Novo Velho Amor Simples

Chega perto, moço novo
Se acomode em meu lar
É simples, é velho, cansado
Mas tem ainda algo pra dar

Meu sorriso é de nervoso
Não esperava ser assim
Um tremor nunca sentido
E um bem querer que não tem fim

Eu escrevo mais finezas, moço
Mas teu sorriso me avecha
Tudo que sai são letras bobas
Da idade do arco e flecha

Vem, toca amor na viola
Que eu já preparei nosso leito
Fala umas bobagens pra rir
E deixa teu perfume em meu peito

Moço novo, não assuste
Que eu não quero anel no dedo
Pega a cuia, tira a bota 
Só vive o amor quem não tem medo



quarta-feira, 27 de junho de 2012

Um beijo, tristeza!

Pra mim, quem se esconde atrás de amarguras, dizendo "encobrir" felicidade por medo da inveja alheia, não confia no próprio taco. "Nossa, perdi tal oportunidade. Certeza que foi olho gordo." Certeza é, que isso foi permitido. A gente atrai o que emite e eu me sinto protegida demais pra qualquer coisa ruim me atingir.
Acho que falta mais peito pra assumir os verdadeiros desejos. Menos ativismo de sofá. Aquele lance do cuidar-da-própria-vida, sabe? É ótimo pra gastrite... e pra pele.
Se não gosto, não mimo. Se amo, eu AMO. E mostro. Porque ainda tem muita gente bacana no mundo que gosta de ver a felicidade dos outros. E o dia que eu sentir incômodo pela alegria (que seja em excesso) de outra pessoa, esse dia estarei doente. De alma.




segunda-feira, 4 de junho de 2012

Amor novo. Amor. Fim.


O cantar e o olhar. A esperança e a bonança.
O desejo e o beijo. A saudade e vontade. O novo e o medo.
O frio na barriga. As brigas. A mão no cabelo.
O pelo. O suor e o abraço. O laço.
As risadas e as recentes lembranças. A insegurança. A respiração.
O chão. A decepção...
As descobertas e o engano. A volta dos planos. O retorno da estrada.
A face molhada. O coração. A palpitação.
A cidade. A felicidade. A velocidade.
A curva. A chuva. A visão turva.
A caixa com flor. A dor. O fim de um amor.

terça-feira, 1 de maio de 2012

(mu)danças

Mudei o cabelo, os bares, a cor do esmalte. Troquei o vinho por cerveja e o bistrô francês por queijo coalho. A fronha do travesseiro não é mais branca e a sapatilha tem sido meu máximo de sofisticação.
Desliguei a TV e o rádio, liguei a respiração. Passei a assistir meus sonhos e dar risada do chute na quina do móvel. Voltei a dançar. Valor hoje, é para a presença. Presença, a quem faz bem.
Tenho falado menos, trabalhado mais. Subi uns centímetros do vestido e desci outros da preocupação. Planejo e executo. O tapa do orgulho deixou de arder.
Troquei os amores e o jeito de amar. Troquei a pulseira. O local da viagem. Comprei cama nova.
Aprendi baixezas e elevação do espírito. Já sei dizer "wherever". O romantismo é só visita e a expectativa é isso, ex. 
A argila dos princípios secou. Alguns inclusive, quebraram. Mesmo andando em círculos as árvores cresceram, reformaram o asfalto. 
Notei que colo mesmo, só o tempo dá. O bumerangue volta, mas por um outro trajeto. A vida mudou, me mudou... inclusive ao me fazer entender que certas coisas são imutáveis.

Mesmo com a pele envelhecendo, o inesquecível tatua. 




domingo, 22 de abril de 2012

ON/OFF

A vida debocha da cara das suas peças. Ignorantes peças que acreditam estar no comando.
Burle os 'termos de uso': seja menos que brilhante no trabalho, falhe na educação dos filhos, ligue pro gato no dia seguinte... As regras existem para manter a ordem, a transgressão, para sairmos do comodismo. "Sem transgressão não há evolução". No entanto, não há transgressão sem retalhação... Talvez daqui um tempo, com a humanidade (ou nosso umbigo) mais acostumados com a ideia do novo, possamos colher algum fruto. Até lá, acostumemo-nos com a ansiedade puncionando a gastrite.
A condenação a um pensamento pobre, pequeno. Poucos estão dispostos a sair da caixa. 
Progresso... será? As mulheres se livraram do stigma de eternas donas de casa, do não direito ao voto e em contraponto conquistaram a "obrigação" de serem profissionais competentes, magras e opositoras da formação de família antes dos 30. Os homens, além de sempre atualizados, firmes e bem sucedidos, também precisam ser sensíveis e com alguns dotes domésticos. Ninguém pode fraquejar, porém, se acontecer, temos tarjas pretas e psicanalistas excelentes. As regras estão aí, expostas ou subliminarmente instaladas em "valores". E não é porque você não concorda com o novo semáforo que poderá ultrapassá-lo.
O que falta nas pessoas é sutileza. Perspecção dos detalhes da vida. Menos soldadinhos seguindo o comando. Falta questionamento. Falta respirar mais fundo. Falta mais "dane-se". Sentir mais e pensar menos.
Falar sem medo de chocar. A instalação do politicamente correto calou o mundo das grandes sacadas e então caminhamos nessa pseudo-liberdade enclausurada em ideais... e 'é muito ideal pra pouca ideia'.

Uma alienação confortável.

domingo, 1 de abril de 2012

Sobre a ilusão do "felizes-para-sempre"

Hoje me deparei com um texto que descrevia romantica e ironicamente o ato de dividir o mesmo teto com alguém. E a história continua mais velha que andar pra trás: quem tá fora quer entrar e quem tá dentro reclama. Casamento é como aquela piscina gelada onde seu amigo grita "pode vir, a água tá ótima". E a gente pula.
Morar com alguém é o máximo de intimidade que podemos ter. Vide a família: amamos nossos pais, mas vez ou outra deu vontade de meter o pé em tudo, não é? O que faz um ser de cabeça pensante achar que no casamento será diferente? Não importa se é com ou sem papel passado. Você mora com outra pessoa, bebê. Por mais moderninho que seja o casal, existe a necessidade de dar satisfações, existe louça pra lavar, encanamento vazando e lixo do dia anterior que não foi posto pra fora (e estava na sua vez).
Convivência e romantismo repelem-se. O casal fica tão próximo que ele sabe do pelo encravado da última depilação dela que, por sua vez, não se importa mais com o furo no pijama (na verdade é uma camiseta velha).
Não, não é romântico ouvir o ronco dele. Discutir a temperatura do quarto. E NINGUÉM beija ao acordar antes de escovar os dentes. Pode parecer bobagem, mas bobagens ridículas dessas minam a graça de estar junto. 
Mas tudo isso é tão pequeno diante da amplitude que é dividir a vida com alguém... Se você se considera maduro suficiente para aguentar os pequenos trancos da vida a dois, avance uma casa. Avance para os grandes trancos.

Cumplicidade. Impossível ter uma vida decente a dois sem a parceria sincera do casal. Ok, individualidade sim, além de necessário é fundamental. Mas olhar juntos para o mesmo horizonte é vital pra saúde de um casamento. Caramba, você mora com a pessoa, se não tiver assuntos e planos em comum, que porcaria de vida é essa? Sexo? Desculpa criança, mas definitivamente, isso não é tudo... é um BOA parte, porém, uma parte que vai desmoronando a partir do momento que os demais laços vão se afrouxando... ou se apertando demais. Pois é, a posse também é um belo copo de cianureto aos pombinhos. 
Egoísmo, intolerância... eu poderia listar terabits de pedregulhos na estrada de um relacionamento. Pontos que insistimos não enxergar com a lente cor-de-rosa da ilusão. Mas não existe lente forte o suficiente. O tempo sempre a quebra e mostra um mundo real onde, se não formos práticos, sinceros e pacientes, o conto romântico termina em filme de guerra. Ou pior, em cinema mudo.
Está disposto a ficar 3 meses sozinho enquanto ela estiver no intercâmbio? E você, encara acordar às 3h da madrugada pra resolver problema da família dele? Casamento é hard core, meo bein. Se a cada birrinha você pirar, chutar o balde ou dormir na casa da mamis, desculpa, mas é melhor continuar no namoro. Continuar sentindo saudade, se arrumando pra quando ele chegar... e se contentar com a conchinha uma vez por semana (na verdade, depois do casamento acontece muito menos que isso).
Se eu pudesse dar um conselho a quem pretende encarar o desafio, eu diria que a chave de tudo é o companheirismo. O respeito pela vida daquele que divide a cama com você. Sem grandes dramas ou cobranças. Ser realista, preservando alguns encantos. É, um ciúme bobo ou um passeio inusitado de vez em quando ajudam, sabia? Caso contrário, vão virar estatística para a próxima pesquisa sobre divórcio. 
Acredito sim nas relações, desde que aja maturidade. E maturidade não é ser cara fechada levando tudo a ferro e fogo, ao contrário, é ter leveza para suportar os 'surtos', rir de si mesmo e do outro, é ter confiança... nos dois. Entender de uma vez por todas que, se alguém está ao seu lado é por vontade, não por obrigação. Ele(a) PODE escolher outra pessoa a qualquer momento, mas hoje, escolheu estar com você. E isso é muito, pode ter certeza.


segunda-feira, 26 de março de 2012

Ponto... Ponto? Ponto.


Fim do texto. As palavras terminaram. Foi ponto final.
Depois de tantas reticências e interrogações, a exclamação grita “acabou!”.
Via-se a experiência entre aspas, não pertencente ao contexto. Como se a voz do Autor Divino delimitasse seu tempo. E o fez.
Fracionado muitas vezes pelo humor negro das vírgulas, chegou a confundir pela complexidade da estrutura. Faltou concordância. Algumas linhas vazias. Excesso de letras em outras. A condenação pela não linearidade. O erro.
Por vezes ansiou-se o início de um novo parágrafo. Mesmo que morto. Mesmo com o término das páginas. A falta de tinta. 
A mesma ânsia que provocava o delírio pelo vislumbre dos dois pontos, o signo da expectativa... O ponto final duplicava-se, transfigurava. Alonga, estica. Vira travessão. E cria-se um novo parágrafo... que lá se domestica. E lá fica... Esperando a voz da próxima frase.

E como é difícil ler o silêncio.


quarta-feira, 14 de março de 2012

O conto novo


Entra, deixa a chave na mesa.  Deixa os problemas lá fora. Se deixa.
O microondas vai apitar, abre o vinho pra mim?
É, é um conto novo. Do novo. Não adianta me desconcentrar.
É pelo pão do dia. Pelo salto fino. 
Deixa eu te contemplar, é só o que basta pra inspiração chegar.
Não sei... mais uma taça? Espera, faltam só alguns trechos.
Algumas páginas, eu acho. Me diz, pra que esse perfume?
Preciso continuar, é sobre o vislumbre de uma nova terra. Liga o ar, tá quente.
Sim, pode tentar. Mas já adianto que com as palavras não é fácil lidar.
O teu conto é mais profundo, profano. Não vende. 
Me escreve com os dedos na nuca... Espera, tenho que continuar.
Desenha os parágrafos nos lençóis, são brancos e novos. Toca, pode tocar. Assopra tuas rimas na minha cintura. 
Tá certo, ele pode esperar.
Mais tarde termino. O conto novo. Do novo. De nós.

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

A menina dos doces


Ela anda, ela dança, ela flerta. Adoçando com fumaça de praliné o cinza das cidades.

Forma melodia açucarada com as buzinas e britadeiras.
Ela flutua entre as paredes exalando seu perfume de balas de goma.
Sorri de cócegas dos raios de sol na cintura. Raios de mel contornando as preocupações.
Lambuza com calda de chocolate os atrasos e gritos.
Ela adoça a vida. Ela é doce. Ela é a menina dos doces.
Tem blueberry no olhar e sorriso de cereja fresca.
Carameliza os sorrisos. Embriaga com licor os desejos.

Recheia os dias com creme de avelã.
Sutil e delicada como algodão doce.

Esfria os ânimos com sorvete.
E massageia o imaginário com pedaços de doce de leite.
Faz chover flocos de arroz. Confeita com marshmallow os caminhos.
Necessária como calda vermelha na maçã do amor. 
Ela salva. Ela mata. 
Não enjoa... 
E vicia.


quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

O que é amor pra você?



Há algum tempo atrás minha resposta seria cheia de floreio cor-de-rosa e uma carga extra de egoísmo. O excesso da necessidade de reciprocidade. Hoje, tenho a audácia de discordar de Martha Medeiros quando ela diz que ‘o sentimento mais bonito é o sentimento correspondido’. Não Martha. O amor pra ser bonito não precisa receber amor de volta. O verdadeiro, que faz parte do sublime, da entrega verdadeira. É o bem-querer sem expectativa. O amor livre.
Livre para amar... e só. Sem precisar de atenção, presença. Aquele amor que faz a gente dar a vida por quem não nos daria sequer um bom dia. Sim, existe. Eis o exemplo dos pais!
Existe amor mais perfeito entre os seres viventes que o amor de uma mãe ou pai para um filho? O amor incondicional. Para um pai ou uma mãe a felicidade e o bem estar de um filho estão acima de qualquer interesse. Entre vê-lo feliz na Austrália e tê-lo frustrado a seu lado, eles não tem dúvidas em que optar. Se um filho erra 300 vezes, os pais perdoam 301. Sabem que os filhos não os pertencem. Mas o amor que sentem, sim. 
Não deu certo na Austrália... mas os pais o recebem de volta. Numa discussão, de onde podem sair mágoas, os pais perdoam. Perdão é amor. Casos que pais e filhos rompem por anos e nunca, jamais deixam de amá-los. Criam com todo o afinco e num ato ímpar de generosidade, entregam o filho para viver com outra pessoa... desprendimento é amor. O melhor presente é sempre para ele. Querem vê-lo progredir, ensiná-lo a viver. A saudade é insignificante perto da alegria em ver a realização de um filho. E se somos capazes de amar dessa forma a um filho é porque temos capacidade plena para exercer esse sentimento com quem quer que seja.
Amor é isso, abnegação, resignação. É ter paciência, tolerância. Perdoar e receber de volta quantas vezes forem necessárias. Ser admirado pelas atitudes, a troca é consequência. Acho um pouco cruel essa segmentação do sentimento: amor de irmão, amor de amigo... amor é amor! É mais que querer estar junto, é querer a felicidade do outro, do nosso lado ou não. O desejo de possuir dá lugar à vontade de querer o bem. Que seja feliz, longe ou perto, mas que seja feliz. Isso é, de longe, o sentimento mais maravilhoso que eu conheço.
Acredito que seja um exercício que, como aquele da academia, no começo é bem difícil e dói um pouco. Mas depois de um tempo se torna tão natural que a gente sente falta quando não pratica. A abstenção da necessidade de posse é uma libertação. Desintoxica a alma e economiza rugas. No amor livre, assim como um pai pode esperar uma vida pelo filho, nós podemos esperar vidas pelo nosso amor, porque a gente ama, pura e simplesmente, como parte do cotidiano. E se um dia tivermos o privilégio de receber esse amor de volta, depois de tanto exercício, o coração estará bem mais saudável para acelerar o ritmo e bater mais depressa.

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Virando

Virou o ano... Alguns viraram a cabeça, outros viraram santos. Uns viraram o volante na contramão, outros viraram caminhantes de uma linha reta. Viraram a cintura, os olhos, viraram os quadris.
Alguns viraram o pescoço. E torceram. Outros enxergaram além do limitado campo da visão. Houve os que se viraram ao avesso expondo a carne sem pudor. Viraram loucos, viraram sãos. 
Alguns viraram a própria escuridão enquanto outros viraram o farol da massa.
Viraram voluntários.
Viraram doentes em suas certezas. Outros viraram a cura pelo aprender. Viraram ex-fumantes... articulistas econômicos... Viraram morada da solidão.
Viraram a alegria da vida de alguém.
Viraram devotos, viraram pagãos.
Uns viraram chatos. Uns, indispensáveis. Alguns viraram naturalistas e tem aqueles, ah, aqueles que sempre viram os sabe-tudo, achando-se capazes até de descrever as "viradas" de cada um.
Viraram o copo, o espelho, a esquina.
Virou amor pra vida inteira.
E você, o que virou?