segunda-feira, 26 de março de 2012

Ponto... Ponto? Ponto.


Fim do texto. As palavras terminaram. Foi ponto final.
Depois de tantas reticências e interrogações, a exclamação grita “acabou!”.
Via-se a experiência entre aspas, não pertencente ao contexto. Como se a voz do Autor Divino delimitasse seu tempo. E o fez.
Fracionado muitas vezes pelo humor negro das vírgulas, chegou a confundir pela complexidade da estrutura. Faltou concordância. Algumas linhas vazias. Excesso de letras em outras. A condenação pela não linearidade. O erro.
Por vezes ansiou-se o início de um novo parágrafo. Mesmo que morto. Mesmo com o término das páginas. A falta de tinta. 
A mesma ânsia que provocava o delírio pelo vislumbre dos dois pontos, o signo da expectativa... O ponto final duplicava-se, transfigurava. Alonga, estica. Vira travessão. E cria-se um novo parágrafo... que lá se domestica. E lá fica... Esperando a voz da próxima frase.

E como é difícil ler o silêncio.


quarta-feira, 14 de março de 2012

O conto novo


Entra, deixa a chave na mesa.  Deixa os problemas lá fora. Se deixa.
O microondas vai apitar, abre o vinho pra mim?
É, é um conto novo. Do novo. Não adianta me desconcentrar.
É pelo pão do dia. Pelo salto fino. 
Deixa eu te contemplar, é só o que basta pra inspiração chegar.
Não sei... mais uma taça? Espera, faltam só alguns trechos.
Algumas páginas, eu acho. Me diz, pra que esse perfume?
Preciso continuar, é sobre o vislumbre de uma nova terra. Liga o ar, tá quente.
Sim, pode tentar. Mas já adianto que com as palavras não é fácil lidar.
O teu conto é mais profundo, profano. Não vende. 
Me escreve com os dedos na nuca... Espera, tenho que continuar.
Desenha os parágrafos nos lençóis, são brancos e novos. Toca, pode tocar. Assopra tuas rimas na minha cintura. 
Tá certo, ele pode esperar.
Mais tarde termino. O conto novo. Do novo. De nós.