quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

De roupa nova


Vestiu roupa nova. Um novo shampoo para os cabelos e um creme antirrugas maravilhoso. Novos dentes, novo sorriso. Era visivelmente mais bela. 
Vestiu-se de amor.  Haviam flores estampadas na pele que brilhava de saúde. Encobriu-se de perdão e pôde constatar que não existe maior alívio no mundo que encostar a cabeça no travesseiro sem mágoas ou rancores no coração. Era livre.
Estava vestida com a paz interior. A nova roupa de seu coração era realmente bonita. Tinha liberdade para sentir sem esperar nada em troca. A sinceridade tocou sua alma de forma tão profunda que não importava se outros acreditavam. Ela acreditava. Deus acreditava. E viraram amigos.
Nas muitas conversas diárias ela pedia pelos seus, por quem não era mais e por aqueles que não gostavam de sua forma de vestir. O desejo era roupa nova para todo mundo. 
As cores dos sapatos eram claras e a cada passo a calçada se iluminava. Eram sapatos especiais. Pequenas borboletas coloridas acompanhavam sua caminhada atraídas pelo perfume suave que emanava. Lembrava verbena. 
Chovia ainda, mas uma chuva morna que só faziam os pés deslizarem mais facilmente pelos caminhos. A turva tempestade havia passado. Alguns buracos escuros surgiam, mas os anjos – pequenas borboletas coloridas – evitavam que tropeçasse.
Não sabia o destino final, mas desejava continuar caminhando. Levar roupa nova e distribuir perfume pelos caminhos. De alguma forma, sentia que valeria a pena.

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Só amor só

Decidira deixá-lo em paz. E amava-o nos trechos dos tempos vazios. Nas vielas escuras de seu peito onde o ar úmido cheirava o perfume das costas dele. Amava porque já não era possível deixar de ser. Tampouco deixar de ter. De ter o amor que era responsável pelos batimentos e pelos despertares. Amava com a serenidade de um mar manso, contendando-se com as alegrias das lembranças... Por mais um momento ela amava. Lendo o caderno de humor ou mastigando a bala de amendoim... amava nos intervalos. Nos sonhos e nas visões... Na fila do queijo e na loja de toalhas. As toalhas lembravam tanto ele. Desistira de querer não querer. Já fazia parte de seu hábito vital. Havia amor por toda parte, na escova de dentes. Quem pode viver sem uma escova de dentes? A dor havia sido incorporada, estava nas pálpebras e entre as cutículas.  Indissolúvel de sua alma, amava tanto que passou a se-lo. Amava porque ela era o próprio amor. O amor que a pele possuía e devorava, alimentando-se dos suspiros e dos desejos passivos. Impossível desprender. Ele nada sabia mas fizera do corpo dela sua morada inconsciente. Ela que decidira não mais importuná-lo com seus devaneios insistentes. Observava-o de longe. E amava-o de perto, bem perto, por entre os tecidos. Sem sacrifícios. As imagens estavam em suas artérias e o bem querer nos pulmões. Bastava que respirasse. Ela amava... Respirava... E o deixava em paz.

domingo, 30 de outubro de 2011

Amar? Fica pra próxima!

O mundo anda cada vez mais rápido. Anda não, corre. É informação na velocidade da luz. Formamos uma geração imediatista, onde todas as respostas podem ser encontradas no São Google em segundos.
Diante de tanta rapidez, percebo que as pessoas perderam a paciência para o amor. Nunca antes relacionamentos foram tão difíceis de serem mantidos. Por quê? Acostumamo-nos tanto com as instantaneidades que fica impossível parar alguns minutos para uma franca conversa.
Instalados nessa sociedade de idolatria ao ego, ao consumismo próprio e desenfreado, é difícil pensar em  faltar um dia da academia pra fazer um jantar especial àquela pessoa.
Jogos de conquista? Esquece, eles duram pouco mais que alguns minutos. Estamos sem tempo para charme, ligações inesperadas, flores... O lance agora é pular em cima do pescoço do ser desejado, sugar todo o prazer possível e ir embora. Para o próximo. Próximos. Muitos.
D.R. hoje é sinônimo de cafonice. Ele não quer sexo? Melhor partir pra outro. Não há tempo pra entender os problemas que ele tem passado. 
Estamos em uma era doente. O tumor da falta de tempo, quando na verdade preenchemos nossas vidas com coisas cada vez mais vazias. Exige-se muito então devoramos informações, aparelhos tecnológicos, MBAs e afins... Cadê tempo pra fazer carinho nos cabelos dela? Sem tablet ou smartphone nas mãos... Sem se importar com a quantidade de e-mails que estejam chegando...
Tempo pra cuidar da relação, como nós cuidamos da nossa aparência, da nossa posição profissional. Isso é cada dia mais raro, o que tem gerado uma massa de pessoas superficiais e solitárias. Não por vontade própria mas por se deixar envolver na teia de ocupações pseudo-inadiáveis e adiando sempre o que importa, ou quem importa.
Tempo pra cuidar do outro. Conhecer, entender, respeitar. Tudo isso envolve o amor. Ou será que as pessoas acham que o par perfeito é igualzinho, lindo e sem problemas? A individualidade tão pregada beira ao egoísmo: "Problemas seus, são seus. Dos meus eu cuido."
Cumplicidade. Formam-se muitos casais. Mas sem tempo para serem cúmplices.
Então nos veremos com sessenta anos, três casamentos fracassados, fotos de viagens incríveis e um carro bacana. Suspirando sempre uma certa melancolia de que faltou alguma coisa. É, faltou tempo. Faltou amor. Faltou inteligência para perceber que sem isso, o coração fica vazio. E a sensação mais sublime de saciedade que podemos ter é olhar um par de olhos brilhando na nossa frente durante o jantar...

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

O circo


Eu fiz umas boas maluquices pra chamar tua atenção. E quer saber? Por algum tempo você foi o mais empolgado da platéia. Fiz mágica pra poder te ver. Andei na corda bamba pra equilibrar as brigas. Eu fui trapezista pra te impressionar. E te deixar com frio na barriga. Adivinhei pensamentos seus nos meus números de mágica. E te arranquei sorrisos lindos quando me vesti de palhacinha. Nos intervalos você me apertava pela cintura atrás das coxias. E me levava algodão doce... Com o contorcionismo levei amor dos pés a cabeça. E com malabares eu fazia graça pra te mostrar habilidade. A habilidade de equilibrar o amor acima do ciúme na pontinha da cumplicidade. Eu sei, você sempre preferiu meus números sem maquiagem, sem salto, sem roupa... E também fui artista despida. Por você, eu era tudo. Eu fazia qualquer número. Você foi, por muito tempo, o MEU respeitável público... Mas você foi embora antes que o espetáculo acabasse. Não se importou com meu cansaço, nem com a minha dor nos pés. Eu chorei sim, porque a razão da minha arte havia partido e levado meu coração. Mas sou artista meu bem, preciso de brilho. Levanto picadeiro agora, para armar em outro terreno, mesmo sem coração, mesmo sem amor. Vou levar o que aprendi para onde exista um respeitável público que espere as luzes se apagarem. E que me aplauda de pé.

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Enquanto você chora...


Enquanto você chora
Os frutos amadurecem
Os meninos brincam
As árvores crescem
O mundo gira
O Sol não desaparece
A fonte seca
As mãos estremecem

Enquanto você chora
A vida acontece
As músicas mudam
O corpo padece
Às pálpebras incham
O rosto ruboresce
A novela termina
E tantos te esquecem

Enquanto você chora
O coração adoece
O rio faz seu curso
Os jardins florescem
Os olhos embaçam
Você envelhece

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

A dor e a saudade - quem ganha?


Eu acho mesmo que escrever é coisa de gente doida. Gente normal demais nunca tem muita coisa pra contar. Fico aqui imaginando sonhos onde os suspiros fazem frases, que às vezes se atropelam, mas no fim se entendem. E eu sei que sempre vou encontrar motivos pra escrever. Hoje é você, amanhã não sei... Penso que vai chegar o dia em que você não vai mais se ver nas minhas palavras. E eu acho isso tão triste... Mas a tristeza também me inspira então escrevo lamentos até esse maratona acabar. A maratona da dor e da saudade. Elas estão correndo em uma pista chamada vida, sabia? Na minha pista. Na minha vida. O percurso é difícil, mas elas são valentes. Largaram juntas, porém a dor lidera com folga a prova desde o início. Não gosto dela. É minha professora há anos e seus castigos machucam demais. Não quero que ela vença. A saudade embora me faça sofrer, é doce. As duas me ajudam escrever, mas a saudade consegue me trazer alguns nostálgicos sorrisos no rosto. Com a dor são só lágrimas. E essa vida já é difícil demais pra eu querer aprender através de tapas. Quero distância da dor. Prefiro a saudade. E tenho fé, sabe? Estou aqui, na linha de chegada torcendo. E escrevendo. Esperando a saudade superar a dor. E ganhar mais essa prova.

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Dieta de você


Eu como você todos os dias. Mesmo você obstruindo toda a circulação de vida do meu corpo. Entupindo todas as artérias. O mesmo alimento que me mantém viva me envenena. Da garganta não sai mais voz. Das pernas não saem movimentos. No rosto não aparece mais sorriso. São os reflexos de uma alimentação desregrada. Mas eu preciso devorar você. Pra saciar meu vício. Pra me sentir viva. Cada pensamento é uma porçãozinha. Daquelas bem gordurosas e salgadas. Que levam ao êxtase momentâneo mas na madrugada seca a boca. E no dia seguinte seca a alma. Mas você continua sendo meu prato preferido. As fotos são um banquete de festa fina. E eu como feito uma selvagem temendo a abstinência. Cada novo texto é sobremesa daquelas com muita calda que eu ataco igual criança mal educada. Quero levar pedacinhos de você pra casa, como aquelas tias que escondem doces nas bolsas. Eu me alimento da sua imagem todos os dias. Mesmo sabendo que não é saudável. Prometo todas as segundas-feiras começar a dieta de você. Mas a obsessão pela tua presença é irresistível demais e nunca consigo ir além da hora do almoço. E me lambuzo com lembranças e promessas esquecidas. A congestão vem quase sempre, em seguida das flexões desesperadas pra te tirar de mim. Mas eu já comi. Mais uma vez não consigo evitar sentir teu gosto. Eu caio em tentação sempre.


domingo, 2 de outubro de 2011

Na contramão

Eu fiz sim, um texto bonitinho de auto-ajuda dizendo que somos as melhores e nada no mundo pode nos abalar. Mas tô sem saco pra isso. Sem paciência pra esse: querer-poder-conseguir. Nem sempre é assim. 
Eu escrevo pelo direito de ser eu, de me assumir. E escancarar todos os cacos e coisas feias que tem aqui dentro. Escrevo para colocar as interrogações de dentro pra fora. Como se as palavras ao saírem pudessem encontrar algum tipo de resposta.
É um alter-ego rebelde e livre que me deixa menos bonequinha. Faz vez ou outra aparecer um PORRA no meio do texto. Assumir a fraqueza. Os desejos...
Mostra a saudade, a tristeza, a raiva e todos os sentimentos que meninas fortes não podem ter. Mas eu tenho. E faço lindos textos de amor que não posso publicar pra não me mostrar apaixonada. E duros escritos de mágoa que me renderiam uns bons tarjas pretas. A gente não pode tudo.
No entanto, na viagem interna das letras me sinto despida frente a tantos, que por tamanha intimidade insistem na prepotência que me conhecem bem. Darlings, nem eu o sei.
Só sento no tapete mágico das palavras e vou pra longe, ensaiando uma viagem que por covardia ainda não me permiti. Mas que a escrita me permite, colocando aqui um aglomerado de frases e afirmando depois que não são minhas. São obras. Um trabalho.
Só por hoje não vou falar que sofrer não vale a pena. Que sorrir é o melhor remédio. E tantas outras lições coloridas tão esteticamente agradáveis mas empiricamente vazias.
As chaves das algemas eu tenho. O par de tênis também. Agora é só correr. Correr de quem eu era e ir atrás de quem eu sou. O esforço deve valer a pena. 


segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Andanças


Tempestades enfrentei sem adoecer
As muitas topadas me fizeram crescer
Chorava nos cantos pra não mostrar fraqueza
Aquela a qual todos comentavam da beleza.
A delicada flor do deserto
Que cresceu sem nenhum amor por perto
E saiu dos templos em busca dos cabarés e das metrópoles
Com um pouco de álcool, bossa nova e rock
Abandonando princípios em troca de emoção
Ofertando a alma por um pedaço de pão
E rabiscando nas estrelas minha doce sina
Que o corpo de mulher e a cara de menina
Haviam pressentido desde o primeiro grito.
Ao Supremo Maior, sem delongas deixei escrito:
'Eu vim pro mundo pra encantar, meu Deus
Mas só sofrimento tive nos dias meus!'
E a Divindade rascunha, embaixo das minhas letras
Naquele céu escuro quase de cor preta:
'Menina, descalça faz teu giro, e reza todo amanhecer
Porque o que não falta na tua vida, é vida acontecer.'


quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Sim, sua culpa.

Depois de horas de lágrimas derramadas, com o rosto exausto se olhando no espelho, você percebe quem é o único responsável por cada uma de suas dores... Você. Suas escolhas.
Nos permitimos achar, julgar, acreditar... nos permitimos amar. E a cada permissão concedida assumimos a responsabilidade das consequências. Mesmo que inconscientemente.
Porém, com a nossa confortável mania de jogar a culpa no mundo, ora o destino é responsável, ora aquele cafajeste com quem você se meteu, ora sua chefe, que insiste em não valorizar seu trabalho. Já parou para pensar que você pode não ser tão bom quanto imagina?
É a maximização do ego se propagando aos montes. Sempre apontamos o erro a algum fator externo. Como se errar fosse cada vez mais proibido. E é.
Ela terminou. Mas não porque você é inseguro, ciumento ou infantil. Ela terminou porque o destino quis assim, e se um dia tiver que ser, vai acontecer. Ok, boa sorte.
O nosso problema é essa dependência do outro, até para atribuir enganos.
A vida vale por si só e as pessoas só podem ser bem vindas quando acrescentam, e não para tapar aquele buraco escuro onde ficam nossos medos.
Olhe-se novamente. É a essa imagem a quem você deve atribuir as consequências dos atos cometidos ou não. A sua felicidade... ou a sua dor. Se demos a permissão, sim, elas são indiscutivelmente nossas.
Não dá mais tempo de culpar sua mãe por não ter colocado mais chocolate no leite e isso ter feito de você um incompreendido na Terra. A vida adulta não tem tanto glamour como pensávamos. É legal poder ir e vir, no entanto a teia que envolve a liberdade é bem complexa. Não é fácil ser livre. Às vezes machuca.
Perceber onde e o porque de cada tropeço. Tomar as rédeas dos erros, dos acertos, da vida... Isso é maturidade. Isso é 'cuidar do jardim'*.
*Alusão ao texto "Borboletas" de Mário Quintana.

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Placas indicativas

E quando a gente se dá conta, o mundo gira.
Na verdade, às vezes, parece que chacoalha. Tonteia. 
Faz perder o rumo.
E encontrar novos caminhos.
Se desencontrar.

Dar de cara com placas indicativas repetidas vezes. 
Parece que mesmo no meio do furacão tem uma setinha dizendo: "por ali".
Alguns chamam de "anjos".
Aquela sarjeta que você senta depois de um porre.
Aquele porre que você toma depois de um fora.
A sopinha com cobertor na noite fria.

Anjos vestidos de placas indicativas.
Que te mostram a estrada quando a visão embaça.

Todo mundo algum dia precisa de uma indicação.
Até os grandes. Até os fortes.
O mundo é grande demais pra andar sozinho.
Às vezes o GPS quebra. 
Ou não suporta uma tempestade um pouco maior.

Mas o Universo conspira pra um luminoso acender na avenida.
E um técnico consertar a lâmpada queimada de dentro do peito. Ou dar uma recolhida nos cacos da última que acabou de quebrar.

Anjos. Técnicos de eletricidade. Placas indicativas.
Obrigada.


sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Um ano

O que você faz em um ano?
Em um ano a gente cria, recria, destrói.
Em um ano descobrimos uma nova habilidade. Mudamos de emprego.
Conhecemos lugares, pessoas.
Em um ano cursamos aquela especialização.
Mudamos a cor do cabelo. Perdemos cabelo. 
A gente engorda. Emagrece. Ganha celulite.
Em um ano descobrimos novos mundos, novas sensações, novos sentimentos.
Nos apaixonamos. Desapaixonamos. Apaixonamos de novo. Às vezes por pessoas diferentes. Às vezes pela mesma pessoa.
Mudamos de casa. De cidade. Mudamos a forma de pensar.
Em um ano fazemos amigos pra vida inteira. E conhecemos gente de nunca mais.
Em um ano você paga a TV nova. Troca de carro.
Em um ano se nasce, se renasce. Morre.
Em um ano você perde. Ganha. Perde de novo.
E choramos. E rimos. E aprendemos um pouco.
Desperdiçamos um pouco de tempo. Machucamos alguém.
Em um ano você esquece um amor. E encontra outro. Ou não.
A gente muda. A gente aprende. 
Perdemos velhos medos. Encontramos novos. Redescobrimos gostos.
Um ano...
O que você fez em um ano?

*ps: hoje é aniversário de um ano desse blog... ;)

terça-feira, 28 de junho de 2011

Amor real

Você continua achando as pernas dele lindas, mas de repente outras coisas passam a ter mais importância.
De repente você passa a observar a generosidade, a perspicácia. Sim, aquele sorriso embaixo do chuveiro ainda te derrete, mas o telefonema dele te pedindo ajuda é arrebatador.
O ciúme existe, mas a segurança de que esse amor é seu te permite dormir com um sorriso nos lábios. 
Passar um final de semana inteiro sem ele já não enlouquece mais, a saudade ao invés de machucar, deixa o coração quentinho... 
Um “eu te amo” perde fácil pra um “fica mais”... o valor está na qualidade da convivência, na otimização do tempo junto. Na partilha, na troca... 
Ficar horas embaixo do edredon e deixar o toque falar por si. A sinceridade de um amor tranquilo é um presente de Deus.
Só um abraço no momento certo. Mais nada. Às vezes é preciso pouco pra sentir o muito. O muito que o amor pode ser. E é.

domingo, 19 de junho de 2011

Back!

Não tem jeito, realmente é a inspiração que manda nesses dedinhos aqui, por isso tanto tempo sem postar.
Mas voltei, e espero não ficar mais tanto tempo longe.
Ultrapassamos 20.000 visualizações e 120 postagens no blog. Nem preciso dizer que a alegria é imensa, ainda mais que esse cantinho foi criado sem nenhuma pretensão além de rabiscar alguns dos meus devaneios...
Fiz um texto meio tristinho (post anterior a esse), mas foi o que a inspiração mandou e eu não desobedeço never! =)
Muito obrigada aos leitores e amigos lindos que me prestigiam aqui. Sem dúvida vocês são presentes enviados por Deus nas horas mais precisas.
Um beijo enorme e bora tocar o barco que o show não pode parar!

Coração machucado

Pra falar de dor... sabe, aquela que machuca bem fundo? Que dói só de imaginar?
A dor de dentro fere mais... Porque não tem curativo, não tem remédio. Não dá pra mãe dar um beijinho e dizer que passou. Ela fica ali, latejando.
E transborda pelos olhos. Traz os soluços e aquela sensação de que nada no mundo machuca mais. De que nunca mais vai passar.
O coração tá doendo agora, e nada pode ser feito. A escrita e o choro é um tipo de anestésico temporário. Mas amanhã vai doer de novo. E depois de amanhã também.
Já teve dor no coração? É triste. É sofrido. Ela ocupa um espaço gigante na vida. Faz sombra. E frio.
Dizem que o tempo cura... só que demora um pouco. É como um remédio homeopático, tem que acreditar e ter paciência.
E a gente insiste em colocar a saúde do coração em perigo. Sabe que pode machucar, mas mesmo assim, vamos em frente. Melhor cuidar com mais carinho, afinal a dor é só a gente que sente.
É um dos poucos casos que a automedicação é a melhor saída. Entregar o coração machucado em outras mãos pode fazer mal... Cuida você dele. Esquece os outros. O coração é seu. 
Nós que sofremos, ninguém mais. É insensato pensar que uma outra alma pode curar uma dor que é sua. Pode mascarar os sintomas, como um antibiótico vencido. Mas logo volta, e pior.
Coloca o coração em repouso uns tempos. Se está debilitado precisa de cuidados especiais. Cuida dele até a total recuperação. Interromper qualquer tratamento pode ser perigoso.
Ah, e tenta não machucar ninguém. Dói, sabe? Dói bastante... 
Claro que pode se ferir novamente. Apesar da dor, é o que nos faz sentir vivos. Mas por um tempo é bom dedicar carinho só para o próprio coração, pra cuidar melhor, e não sentir mais aquela pontada ao suspirar.
Cuida. Cuide-se. E vai passar, tenho certeza. Vai passar.

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Amor Omnia Vincit

Era um frágil recém nascido. Prematuro. Os médicos não acreditavam que sobreviveria.
Necessitava de cuidados especiais. Precisou ficar na incubadora por muito tempo. Era muito pequeno e delicado.
Todos haviam perdido a esperança. O bebê veio ao mundo cedo demais, não tinha forças para enfrentar a vida.
As luzes se apagaram. Silêncio.
Ouviu-se um choro... alguns fracos sons vindos de onde o bebê estava. E como um milagre divino ele abriu os olhos e parecia querer respirar mais ar que seu pulmãozinho pudesse suportar. Estava vivo. Venceu sua primeira batalha.
O menino ganhou força. Em pouco tempo deixou o hospital e levava alegria por onde passava. Era um menino especial. Tinha luz e ternura. Seu nome: AMOR.
AMOR era um menino comilão e muito carinhoso. Adorava brincar de herói. Corajoso e forte, mantinha uma fé inabalável. Sorria sempre.
Às vezes caía na tristeza. Não suportava ficar sozinho. Sentia sempre muitas saudades... e fome. 
Adoecia às vezes. Trazia alguns problemas desde o nascimento. Mas não era mesmo um garoto comum, possuia um dom especial.
Certa tarde, em uma de suas brincadeiras, o AMOR foi esquecido por seus amigos em um vagão escuro de um trem abandonado. Anoiteceu, e ele, que não exergava muito bem, pisou em um pedaço do vidro quebrado que estava no chão. 
Sentia fome. E AMOR não poderia ficar sem alimento. Senão enfraquecia. 
Ficou sozinho, sentiu falta de casa, mas embora triste, o AMOR venceu a saudade. Mesmo no vagão escuro, o AMOR venceu o medo. Teve paciência para esperar o amanhecer. O AMOR venceu a dor do corte. Venceu a mágoa por seus amigos o terem esquecido. Amanhaceu... O AMOR venceu a distância de casa e foi.
É realmente um garoto especial. Forte. Mesmo com todos os obstáculos, o AMOR VENCE TUDO. 

segunda-feira, 30 de maio de 2011

Pronta

Estou pronta.
Para viver o que não se vive. Pronta para as abstrações.
Para dizer o indizível. Escrever o indescritível.
Pronta para voar pelas paredes.
Para respirar a falta de ar.
E escutar o silêncio.
Estou pronta para gritar no quarto vazio.
Pintar na tela as cores do branco e preto.
Para afundar em uma poça... Para chamar o que não existe.
Pronta para chorar sem lágrimas.
Para sofrer sem dor.
E ouvir a mudez do sussurro.
Pronta para a alegria sem sorriso.
Para as transgressões dentro da lei... E para as regras proibidas.
Pronta para fazer bater o coração sem artérias.
Para as palavras sem letras.
E para a felicidade oculta.
Máscaras.
Pronta. Para ver o invisível. Para sentir o não tocável.
Pronta para sentir. O não permitido...
Estou pronta.

terça-feira, 24 de maio de 2011

Recomeçar...

Não sigo nenhuma religião específica mas me considero uma pessoa muito espiritualizada. Converso com Deus todos os dias, às vezes mais de uma vez. E modéstia a parte até que tenho moral viu, Ele sempre me abençoou muito. 
Não frequento nenhum local de adoração nem sou adepta de ouvir canções religiosas, mas essa música em especial me toca de uma maneira bem intensa. Desde a primeira vez que ouvi, há alguns anos, senti uma coisa muito boa, um arrepio de luz mesmo. De vez em quando eu ouço, e hoje em especial tive uma vontade imensa de escutar. Na verdade eu precisava escutar. Ao mesmo tempo que parece entristecer, é uma tristeza que se transforma em força. Tá em looping infinito, já recomeçou uma dúzia de vezes. Me transmite uma sensação tão boa de esperança e fé, que não poderia deixar de compartilhar...

Pai,
Tá difícil manter o caminho,
Tenho andado em meio a espinhos,
Nem sempre é tão fácil acertar.

Pai,
Emoções descalçam os meus pés,
Me roubando em meio a cordéis,
Que me enlaçam em minhas fraquezas.

Pai,
Eu nem sei o que te falar,
Mas eu quero recomeçar,
Me ajuda neste instante.

Preciso da tua mão,
Vem me levantar,
Faz-me teu servo Senhor,
Me livra do mal.
Quero sentir o teu sangue curar-me.
Agora meu Senhor,
Vem restaurar-me.

(Aline Barros)




A última conversa

Estavam frente a frente. Depois de tanto tempo tentando ela finalmente conseguiu que ele a escutasse. Foi difícil.
Tantos meses, tanto amor desperdiçado. Loucuras e declarações desesperadas. O fim.
Foi especial um dia. E ela se apunhalava a cada manhã na esperança de uma dose ínfima de um amor que não a pertencia. Tentou por tempos. Não conseguia mais.
Não suportou a dor do desprezo de quem um dia lhe devotou tanto carinho. Ele havia mudado. Mas, por quê? Teria o sentimento transformado? Teria mesmo existido algum sentimento?
As dúvidas permeavam sua mente deixando-a num misto de fantasia e realidade. No início decidiu abstrair. Fingia estar anestesiada a cada nova ferida. Até que atingiu a carne. E sangrou.
Para estancar, pressionava ainda mais o ferimento. Doía. Ela queria o fim. Implorou por isso.
Mas ele não permitia sua partida. Tinha medo de escutar. O amor não existia, mas havia a posse. E ele a possuía como um ser dependente de seu ar pra respirar. Ele não poderia viver sem aquela que tanto precisava de sua existência. Não aceitava ter a conversa final. 
Todos os dias chegava em casa e ignorava o fato de ter alguém por perto. Alguém em desespero por amor, ou por uma libertação. Checava seus e-mails enquanto ela simplesmente o olhava, sentada do outro lado da sala com seu livro de romance espírita na mão. Tomava chá. Ele, café sem açúcar.
Em uma das tentativas de ser notada, esperou que chegasse no final de mais uma tarde e atraiu-o para o quarto. Trancou a porta. Estavam frente a frente. Depois de tanto tempo tentando ela finalmente conseguiu que ele a escutasse. Foi difícil.
Passaram-se horas. O silêncio era o único manifestante. E assim passaram a noite. 
Acordaram exaustos de uma discussão que não saíra da mente. E desceram para a mesa do café. Pra ela chá. O dele, sem açúcar.

segunda-feira, 23 de maio de 2011

"Just a little tenderness"

Sabe aqueles dias que você só quer um pouco de colo?
De alguém pra passar a mão no cabelo e dizer: “vai ficar tudo bem”.
Um abraço mais forte pra proteger... um olhar mais profundo pra dar segurança.
Alguém com quem a gente possa de novo se sentir criança.
Sem medo de mostrar fraqueza, sem medo de sentir medo.
Pra conseguir mesmo tirar a roupa de gente forte e se assumir frágil, ao menos uma vez.
E ter a coragem para admitir não ter condições de resolver todos os problemas.
Alguém só para ouvir...
Deixar de oferecer o ombro por uns instantes para ter um ombro. Pra chorar e ter o direito de não achar a vida tão legal o tempo todo.
O ombro pesa demais algumas vezes. E chega a ser humilhante não conseguir lidar com certas situações. A sensação de impotência diante de uma questão que vai além de nossas possibilidades. Alguém alguma vez deve ter falado que devemos resolver todos os problemas, todos. E quando algum foge do nosso controle, o chão parece sumir. E nos sentimos sozinhos em um deserto com a noite fria, sem ninguém pra dividir as angústias.
Nos sentimos sós mesmo não estando... parece ser uma solidão inventada, onde a tortura por não sermos capazes de lidar com tal situação nos exclui do mundo o qual pertencemos. Esse mundo que nos cobra tanto. É como um castigo pessoal: “Não consegue resolver? Então fique só, para aprender.”
E de vez em quando dá vontade de se despir da armadura para se vestir com a fragilidade. Não é fácil... mas faz falta.
Então... sabe aqueles dias que você só quer um pouco de colo?


quinta-feira, 19 de maio de 2011

Forçar. Força. Forca.

Pensando em nossos desejos, em nossos anseios, cheguei a conclusão que nada que se sente pode ser forçado. Todas as nossas necessidades são naturais, mesmo que tenham sido geradas por meios artificiais.
Alguns publicitários, por exemplo, batem no peito firmando que aquele comercial de refrigerante deixou a gente morrendo de sede. Sorry, mas a vontade vem do nosso cérebro, só nosso, ok?
Não se força simpatia, não se exige amizade... sim, até para amizade é preciso química. Quantas pessoas você conheceu e gostou de graça? Ninguém impõe isso, não é possível mandar um comando interno. Sentimos, queremos. É simples.
A inspiração é involuntária. A saudade também...
Carinho, tesão, amor... é espontâneo, vem de dentro. Definitivamente não dá pra forçar. Parece meio óbvio mas às vezes abstraímos certas lições, por interesse talvez, ou pra sermos aceitos.
Na verdade aceitar é a palavra. Aceitar que você não morre de amores por aquele colega de trabalho, ou que está completamente apaixonado pela vizinha. Podemos decidir o que será feito com tais sentimentos, mas controlar, forçar o contrário, é impossível.
Gostamos ou não, queremos ou não, desejamos ou não, sentimos ou não. Ninguém ama ou odeia mais ou menos. 
Você é legal, inteligente, bem humorado. Tem um emprego bacana, manda mensagens carinhosas e é uma loucura na cama. O que falta pra ter o coração dela? Falta ela querer. Independente de ser um príncipe ou um humorista de stand up, se não ela tiver vontade de ter você ao lado, não há qualidades no mundo que a conquiste. Nem mesmo uma dúzia de Louboutins.
O ser humano é tão fascinado pelo desafio, pelo proibido, que quando alguma situação é forçada fica ainda mais deprimente. Força => Forca. Danger!
Bora então correr atrás das nossas vontades, porque se for pra forçar alguém a alguma coisa, que seja para entender que não se força nada... a ninguém.

domingo, 15 de maio de 2011

Entre correntes e gratidões...

Um menino, brincando na rua, encontrou um gatinho. Era um gatinho preto, ainda filhote, estava assustado e faminto. O menino o levou pra casa, deu-lhe de comer e preparou um cantinho para colocá-lo para dormir. Era só por uma noite.
Passaram-se os dias e o garoto foi se afeiçoando cada vez mais ao felino. Até que descobriu ser uma felina, sim, uma gatinha doce e carinhosa.
Era claro que não conseguiriam se separar mais. Até a família se apegou ao bichinho que fez com que o garoto se tornasse uma criança melhor, mais tolerante e mais responsável. Afinal, precisava cuidar da sua nova amiguinha.
Mas a gatinha cresceu muito, em pouco tempo tornou-se maior que o garotinho... foi quando ele percebeu que não se tratava de uma gatinha, era uma pantera.
Quando se deu conta que poderia perder sua amiga, passou a acorrentá-la. Ela, por sua vez, não se ressentia, pois gostava do menino e de seus cuidados, além do conforto que lhe era dado, coisa que não teria na selva.
Porém o tempo passou e o instinto selvagem daquele animal aflorava-se cada dia mais. Os dois já não brincavam, a pantera sentia a necessidade de ser livre, de encontrar seu mundo, mas não queria abandonar quem um dia lhe fez tão bem.
O menino amava a pantera como sua própria vida, mas não a queria longe, por isso mantinha as correntes. E ela chorava todas as madrugadas, como um ser humano. Chorava e lamentava tal situação.
Universos que um dia foram tão próximos de repente tornaram-se absolutamente diferentes. Poderia a gratidão ser a responsável por uma situação que fazia mal aos dois? Medo de perder... medo de partir...
O menino, que não tinha mais sua amiguinha nas brincadeiras, lamentava. A pantera, que desejava explorar o mundo, chorava. E a vida, como se não se importasse com os dois, passava.

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Aquela menina...

Ela ri, ela estuda, ela chora... nossa, como chora. Ela trabalha e fala palavrão. Ela dança.
Aquela menina adora Clarice e sapatos. E não tem muita paciência.
A menina sonha, e faz. Fala e ouve. É generosa e egoísta.
Insiste em querer ajudar o mundo, e quer o mundo girando ao seu redor. Ela gira. Ela faz ponta na sapatilha.
Aquela menina delicada e com gênio difícil. Que ama fácil. Já disse que ela chora muito?
Desapegada e passional.
Apaixonada e indiferente.
Batalhadora e preguiçosa.
Ela desloca os quadris ao som do violino. E inventa que histórias de verdade são de mentira. Ela inventa. Se inventa. Re-inventa.
Aquela menina ouve e rock e moda de viola. E se emociona na mesma proporção. Compulsiva por doces e obcecada pelo jeans 38.
Vive de amores e dores.
Tem opinião eterna, que pode mudar a qualquer momento.
A garota paradoxo... filha das metrópoles, dos cabarés e dos templos. Muda de fases e frases.
Ama as palavras e as pessoas.
Ela gira... Abre o círculo, encerra o ciclo. Começa outro. E gira.

domingo, 1 de maio de 2011

A escritora.

Sentou-se em sua penteadeira, com papel e lápis. Ia escrever. Não gostava de escrever à tinta pois era canhota e sua mão borrava toda página passando por cima dos escritos. Era tarde. Sempre esperava a cidade se deitar para mergulhar nos papéis. E em silêncio absoluto, escrevia mais um texto triste.
"Saudade é o que permanece, de quem não permanece. A dor da ausência é a mais dilacerante dor entre todas..."
A tristeza era constante em suas palavras. Gostava de escrever coisas tristes, embora fosse feliz. Uma moça bela, instruída, havia estudado na Capital. E tinha sempre como companhia seus textos. Era admirada por sua perspicácia e sutil delicadeza. As pessoas gostavam do que ela escrevia.
"Quando a saudade é ausente a dor é macia. Conformamo-nos por não poder mais sentir o cheiro.
A saudade que apunhala é a saudade presente. Aquela que podemos encontrar no meio da praça, ouvir a voz. Essa é a saudade que mata nosso coração aos poucos..."
As pessoas gostam de palavras tristes. Seus textos eram até publicados no jornal. Toda semana as donzelas da cidade suspiravam ao ler tais frases tão sofridas e ao mesmo tempo tão confortantes, sim, pelo fato de alguém entender o que muitos sentiam e poder transpor ao papel. Era admirável tamanha sensibilidade.
"Continuo respirando apenas para senti-lo. Pois a mim basta saber que vives para manter-me viva. Mesmo que nunca saibas que vivo para ver tua vida da janela, somente para isso."
Era moça feliz. Mas tinha alma triste. Talvez por isso suas palavras não conseguiam sorrir. Seu coração sorria quando ela escrevia, mas chorava quando ela sonhava. Era sonhadora como todas as outras moças. Gostava de ir à sorveteria aos domingos e de assistir aos mocinhos nas telas de cinema.
"Queria que fosses meu herói. Como nos filmes. Mas preferiste morrer para meu amor ao comprar aquela passagem de trem..."
Continuou a juntar as letras, em sua penteadeira, com lápis porque à tinta borrava todos os escritos... Suas histórias eram ditadas por seu coração doce e sua alma, triste. Mas era moça feliz, e as pessoas gostavam de suas palavras tristes.

quinta-feira, 28 de abril de 2011

...

"É como se você tivesse mil motivos para sorrir e ser feliz, e apenas um para chorar. E, de alguma forma, esse motivo consegue se sobressair todos os dias.
É como se mil pessoas se importassem com você, menos uma. E, de alguma forma, era a única que você necessitava que se importasse. Porque você se importa com ela mais que tudo."

(Caio Fernando Abreu)


quarta-feira, 27 de abril de 2011

Aviso:

Comunicado aos amigos e leitores queridos desse blog:


Obrigada pela compreensão! =)
Beijoka!


terça-feira, 26 de abril de 2011

Considerações sobre Comunicação.

A pessoa que parece ter formiga na cadeira e não consegue ficar parada, além de trabalhar (em três lugares), ser metida a bailarina, querer manter um blog pessoal e (tentar) ser dona de casa, também resolveu estudar. Sim, depois de cinco anos que me formei, volto às salas de aula pra estudar Comunicação. Nunca pensei que discutir semiótica por horas fosse tão divertido!
Como toda boa nerd que ultrapassa os limites da sala de aula e passa a analisar tecnicamente tudo, hoje parei pra pensar na importância da (boa) Comunicação na nossa vida. Parece um assunto meio óbvio, mas na verdade não queria fazer uma análise técnica, mas sim humana, com todas as inseguranças e deslizes que isso pode trazer.
Nunca fui exatamente um exemplo em oratória, mas também nunca desmaiei ao falar em público. O engraçado é que, dependendo do público, a gente trava. Li isso ontem, se não estamos seguros o suficiente quanto ao que vamos dizer, o tipo de público nos intimida. Falo o tipo de público porque quando sabemos que são pessoas leigas, nos sentimos mais à vontade pra bancar o bam-bam-bam e discursar por horas. Mas quando se trata de um público que domina o assunto, ele domina você também, e só um orador muito seguro pra encarar e realizar essa missão.
Passemos tal situação pra nossa vida, cotidiana. Quando precisamos muito falar com alguém, tendo essa pessoa uma importância relevante pra nós, e estando inseguros quanto às nossas certezas, trava. Não sai, bancamos o tio gago, fazemos um 'embromation' e nada... tínhamos uma bíblia pra rezar na ponta da língua, mas ali face to face a história muda de figura.
Claro que não tô generalizando, aliás admiro demais os que conseguem se comunicar e se fazer entender independente da situação. Mas com esse dom eu não fui agraciada. Sempre me comuniquei melhor escrevendo. Como dizia um amigo: "com um email seu, você consegue até a fórmula da coca-cola". É, realmente através das letras me faço entender melhor. Nunca tive grandes problemas com a fala, mas em alguns momentos importantes eu também "travei".
Seis anos de comércio. Não dá pra negar que isso ajuda demais né? O poder de persuasão de muitos vendedores é incrível e eu aprendi muito com isso. Mas, é venda... convencer do concreto é fácil. "Compra, porque esse produto é bom e vai te trazer muitas vantagens." E convencer do abstrato? "Fica, eu preciso dizer como eu me sinto..." - difícil, muito difícil... pelo menos pra mim. Se um dia eu quiser te dizer como eu me sinto, por favor, ouça! É um lapso desses que só dá a cada década.
Eu escrevo. E amo! É uma das minhas maiores paixões, aliás, já virou necessidade. Se tiver um texto meu dedicado a você, pode se achar... Eu escrevo com a minha alma, profunda e verdadeiramente. Quem já me inspirou a escrever pode acreditar que foi através de sentimentos e/ou sensações puras e intensas.
Porém, em um mundo completamente virtual, onde uma conversa 'olho no olho' muitas vezes é considerada bobagem, espero sinceramente não me prender demais nas palavras escritas e esquecer das vozes, dos sabores, dos cheiros... Não quero ser uma velhinha agarrada ao notebook e descrente nas pessoas. Quero vida além dos textos. Quero vida. E quero textos. 
Então que a pessoa escreve pelos cotovelos e não sabe a hora de parar. Tá, parei. Vou ouvir Kings Of Leon e tomar sorvete de Ferrero Rocher. Existe vida além do teclado... até amanhã pelo menos.

domingo, 24 de abril de 2011

Morra... e viva!

Ressurreição, renascimento... Essa época de Páscoa nos remete a uma viagem interior e ao desejo de renovação. São os ciclos da vida.
Perdeu um amor, ganhou uns quilinhos, o trabalho vai mal... e vem o desespero ao pensar que para o resto de nossas vidas poderemos viver nessa via crucis onde o fardo parece ser infinitamente mais pesado do que podemos suportar.

Já se permitiu morrer uma vez? Nesses momentos onde a dor parece arrancar aos poucos pedacinho por pedacinho do nosso coração? Quando o sofrimento torna-se insuportável a ponto de não querer viver mais... morra uma vez. Desfaleça. Ignore o mundo e jogue-se na sua escuridão. Recluse-se para pensar, pra chorar... chore. Até se cansar e perceber que as lágrimas às vezes funcionam como morfina para o martírio. Durma um pouco e respire... devagar... Morra um pouco.

Ninguém é forte o tempo todo e nem precisa ser. Entregue os pontos quando não der mais. Morra. Vá. Mas depois volte, ressurja.
Volte com o espírito novo. Brilhante. Volte com sua luz e ilumine o seu próprio caminho. Mesmo que não tenha resolvido nada, mesmo que os problemas ainda estejam lá, regresse forte. Altivo. Você é dono das suas escolhas e completamente responsável por suas decisões. Decida. Aceite. Busque.
Não podemos viver por ninguém além de nós mesmos então façamos bem feito. Pedras surgirão, a escuridão talvez volte... por isso morra. Morra e ressurja quantas vezes forem necessárias, em todos os ciclos que precisarem ser renovados. Renove-se. A revolução é constante. Evolua.


Morra e transforme.
Morra e progrida.
Morra... e viva!

quinta-feira, 21 de abril de 2011

A partida.

É sempre triste a notícia que algúem se foi... Principalmente alguém de seu convívio diário, que viveu tanta coisa junto, que foi tão importante para muitas pessoas que você ama...
E de repente, num rompante de suspiro, numa última respiração, a pessoa se vai. Pra sempre. Como aceitar que alguém que estava ali, há minutos, nunca mais voltará? A dor no peito e o inconformismo são inevitáveis, seja qual for a crença, nos primeiros momentos não há quem não sinta o vazio deixado por uma vida querida.
E nos resta pedir força a Deus. Força pra superar, seguir em frente, e principalmente força pra amparar os mais frágeis, os que ainda sofrerão por muito tempo com a ausência, força pra ajudar na plantação de um novo jardim no buraco negro que ficou no coração dos que nos rodeiam.
Ficam as lembranças, os momentos, as lições... muitas lições... entre elas a de que nosso corpo é uma máquina e pode parar a qualquer momento, portanto, cuidemos dele. Mas a mais importante das lições é respirar a coragem de sentir, expor os sentimentos ao mundo, independente de opiniões ou regras. Dizer hoje, porque amanhã pode não dar tempo. Esquecer mágoas, pôr fim aos joguinhos, engolir o medo e VIVER!
Fale, cuide, brigue, ame... enquanto há vida.

domingo, 10 de abril de 2011

O sistema.

Aí você se olha no espelho e nota que apesar de tanta porrada não aprendeu nenhuma lição decente que te fizesse ser mais racional... ou menos romântica.
Numa tarde besta você tem um insight que de nada adianta esses testes de revistas dizerem que você é um arraso na cama. E que a cor do batom da moda fica péssimo em você.
Cai a ficha (com o perdão do termo arcaico) que você não passa de um objeto para a sociedade vender mais. E lucrar mais. Lucrar com seu sofrimento, com sua felicidade, com suas celulites novas. E a gente aceita. E a gente quer. E a gente quer ser aceita.
Por que mesmo usando a roupa que o mundo quer, comendo a comida que o mundo manda, ouvindo a música que o mundo impõe você ainda está aí, jogada no sofá com pacote de biscoitos que ficará por meses no seu culote?
Agir como o sistema: "Não demonstre sentimento, eles fogem. Não seja ciumenta, eles espanam. Não ganhe mais, eles piram." Apenas malhe pra dar um up no efeito anti-gravidade, faça sexo duas ou três vezes por semana sem pudor e tenha algo de interessante pra conversar. Afinal, como diria Tati Bernardi: "a gente só quer ter com quem rir no final do dia e ganhar uns beijos no lugar certo."
A complexidade da simplicidade é enlouquecedora. Siga o fluxo, é simples, porém, previsível. Ou seja você, é doloroso às vezes, no entanto, é original.
Confuso? Estranho? E o que mais podemos esperar de um lugar onde chorar é sinônimo de fraqueza e a indiferença transmite poder?
Vontade de apertar aquele botãozinho, mandar as convenções para os ares e... xá pra lá. Esse é um mundo de matrix onde certas dimensões ainda não nos foram disponibilizadas. Sabe lá se um dia serão.

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Dorme comigo?



Vem dormir comigo? Vem. Quero sentir você pertinho essa noite. Vai, puxa o lençol, dorme aqui. Deixa eu passar a mão no seu rosto antes de fechar os olhos. Tô com saudade do seu carinho. Vem. Quero sentir sua respiração no meu ouvido. E rir um pouco antes de pegar no sono.
Deixa a chave do carro em cima da mesa e fica. Gosto tanto quando você mexe no meu cabelo. E fica com os olhos pesados querendo dormir. Deixa eu olhar de novo pra sua carinha de sono. Eu quero ter seu braço na minha cintura essa noite.

Fica amor. Tenho tido sonhos ruins. Eu preciso de você pra me proteger durante a madrugada. O timbre da sua voz me acalma. Deixa eu dormir segurando sua mão. A gente pode ver um filme antes. E eu faço café pra você amanhã cedinho. Prometo não te deixar perder a hora. Mas dorme aqui, vai.
Podemos deixar o rádio ligado. E dormir ouvindo Elvis... Posso escrever um poema pra você.
Coloco dois cobertores, pra não puxar seu lado. Te faço massagem se quiser. Fica, pra eu poder abrir os olhos e continuar sonhando com você pertinho. Só essa noite, amanhã você vai. Dorme comigo essa noite, meu amor, dorme.

quarta-feira, 30 de março de 2011

Vivendo e aprendendo a jogar.

Chega de criar expectativas menina. Cresce. Finca esse coração na terra. Endurece.
Se andar não adianta mais, corre. Se correr não bastar, voa. Mas voa com os olhos de uma águia, fixe o alvo. Chega de suspiros menina. Firma.
Mire o objetivo. Não olhe para os lados. Não vire para trás.
Respira pra si.
Vai. Encare a dor nas pernas menina. Enxugue as lágrimas.
Aprofunde o olhar. Aprimore a malícia.
Produza-se. Conscientize-se de seu poder. Seduza.
Não se entregue facilmente menina. Não mostre todas as cartas.
Aprenda a jogar. Jogue.
Perca, mas não se acostume.
Aprenda a ganhar menina... e ganhe... e viva... e cresça.

segunda-feira, 28 de março de 2011

Mal x Bem

E quanto mais conheço o ser humano... mais admiro os animais. Homem - uma espécie que maltrata, engana e humilha sem o menor pudor. Como é possível tanta podridão prover de uma criação divina? O que os homens estão fazendo, meu Deus? Por que tanta injustiça?
Longe de mim bancar a revolucionária, até porque Che Guevara nunca foi meu ídolo de poster de parede. Porém, basta ter um pouco de sensibilidade pra perceber o quão sujo está se tornando o mundo. E o quanto estamos passíveis a essa sujeira, cada dia mais.
Nos calamos por medo, medo de indivíduos ou políticas indecentes que por poder são capazes das maiores atrocidades. Poder... o mal que move o planeta. O real motivo de tanta hipocrisia, tanta desigualdade, tanta vida desperdiçada.
Verdadeiros prostíbulos disfaçados de finos escritórios no alto da cidade. Gente que se vende por pouco, por nada... Nada que compre dignidade, brio.
A malícia perversa sobre essa gente batalhadora. Essa gente muitas vezes inocente que em troca da compra do mês oferece a alma, a alma livre de maldade e facilmente ludibriada por ratazanas pútritas.
Desculpem-me os acomodados, mas não consigo encarar com naturalidade qualquer tipo de desvio de caráter, principalmente se usado para autopromoção ou pior, para destruição (do que, ou quem quer que seja).
Se me questionarem hoje, não, eu realmente não creio na punição de toda essa alcateia que devora sangue apenas por vaidade. Mas continuo tendo fé no ser humano, na evolução massificada da mente. Então que todos lubrifiquem vossas engrenagens e coloquem a máquina pra funcionar, a principal, o cérebro. Afinal, a única arma letal para maldade continua sendo ela, a inteligência.

sábado, 26 de março de 2011

Quando o passado bate à porta...

Nós e o nosso medo de um passado doloroso ou mal resolvido voltar à tona. Acontece.
Você está bem, vivendo a vida como se deve quando um fantasma aparece querendo te assombrar... ou pior, quando aparece vestido de anjo tentando te ludibriar... e você ri!
Percebemos então que possuímos o poder. E toda a tremedeira que você achou que ia ter com o "flashback" virou... nada. Com a maior naturalidade do mundo, viramos as costas para o passado e o deixamos lá, onde é seu lugar. O que passou já não machuca, não causa taquicardia, nem sorriso no lábio. Virou estátua. Uma arte que com certeza nos ensinou muito.
Em tudo há um propósito do Universo. Vivemos sentimentos ruins para aprender o que são sentimentos bons. Nos iludimos com um falso amor para entender como é o verdadeiro.
Decepções são pontes que nos levam à sabedoria. Não sei se sou sábia hoje, mas graças a uma tempestade lá atrás, hoje conheço as cores do arco-íris de perto! Com algumas nuvens, às vezes... afinal, cor demais também enjoa.
O mundo está nas mãos daqueles que tem coragem de correr o risco pra se viver. Acomodar-se com uma situação ruim não é atitude de vencedores. Cada adversidade é um aprendizado novo e isso é impagável. Não podemos mudar o que passou, não podemos prever o que virá... mas devemos agarrar com força e viver intensamente essa dádiva chamada de "presente".


Beijos!

segunda-feira, 21 de março de 2011

Obrigada.

Não tenho muito a dizer a não ser "obrigada". Muito obrigada aos que me entendem, que me suportam... Agradeço imensamente aos que me aconselham e me dão colo. Aos que me ouvem...
Meu agradecimento aos que me dão carinho sem interesse. Quem me gosta de graça e quem aprendeu a gostar. Obrigada aos que me advertem. Que me fazem abrir os olhos. Meu eterno "muito obrigada" aos que apoiam, sem ao menos querer ouvir a outra parte. Obrigada a quem me dá bronca. Quem me coloca de volta nos trilhos quando eu teimo em sair da linha. Obrigada a quem me faz sair da linha. Meu enorme agradecimento a quem tem paciência com meus lamúrios. Quem suporta minhas crises. Não sou fácil às vezes, eu sei. E agradeço muito pela insistência em meu bem querer. Obrigada a você que me ensina, mesmo sem me falar uma palavra. Obrigada por me fazer acreditar nas pessoas. Obrigada por me fazer descobrir o amor absoluto. E por me fazer amar. Obrigada a quem me tranquiliza que não é feio sentir raiva. E não é vergonha sentir dor. Agradeço aos que me acompanham nas loucuras. E aos que compartilham meu autoritarismo. Obrigada aos que me perdoaram. E aos que não perdoaram, obrigada pela sinceridade. Obrigada... hoje é só. Muito obrigada.

sábado, 19 de março de 2011

Razão: ame-a ou deixe-a.

Último capítulo da novela. E nossos olhinhos brilham ao ver os desfechos (comumente previsíveis), os romances, as condenações. O final feliz.
Como o conto de fadas nos fascina! Desde pequenos, fingimos ser super heróis, mocinhas presas na torre... A fuga para o 'faz de conta' é confortável, bonita. E tantas, ahh, quantas vezes transportamos isso para a vida real. Essa vida de muitos capítulos cinzas, duros, de tantas fases sofridas. A gente também quer o mocinho lindo, a família unida, a heroína apaixonada. Mesmo que seja através das lentes de uma realidade aumentada pela ficção.
Choramos, rimos, torcemos com toda força e nos irritamos com histórias que sequer são reais. Somos humanos, ok, sensibilizar-se é normal. E quando é demais? E quando é de menos?
Quando procuramos a perfeição em forma de vivência. E nos frustramos com qualquer brisa que sopre contra. Decepção, dor, tudo acontece de forma maximizada. Amamos demais, sem medida, sem consequência. E o tombo costuma machucar muito.
Ou nos trancamos em uma jaula seca, onde o sentir não é permitido. Vestimos uma armadura na qual cremos cegamente nos proteger de tudo que faz mal, ou faz bem demais. Não sentimos, e se sentimos, forçamos a não sentir. Um mundo frio, vazio, demasiadamente racional.
Duas formas de fuga. Nos transpor ao faz de conta ou ignorá-lo por completo. Excedendo na doçura ou mastigando amargor. Saltar do penhasco e acreditar possuir asas, ou sequer acreditar que exista um penhasco. 
Nem armadura, nem contos de fadas. Mas sim, assumir a forma humana com todas suas peculiaridades. Permitir-se errar, amar, julgar e sofrer. Cometer loucuras, consciente delas. Aceitar que nada é pra sempre e que ninguém nos pertence, e mesmo assim desejar ter alguém pra si o resto da vida. É o que nos difere dos animais irracionais, a razão. Está aí pra ser usada, mesmo que irracionalmente.

quinta-feira, 17 de março de 2011

Baste-se.

Então você decide seguir... Engatar a primeira e partir sem rumo, ou melhor, com rumo à sua felicidade, à sua vida, sua, só sua.
Muito tempo perdido, muito amor desperdiçado. E você, com um big espelho em casa, tem a perfeita noção que não precisa se manter aos rastejos para conseguir algo que quer. O "algo", ele, não quer, e você possui plena consciência disso. Consciência? Foi isso que eu disse?
Alguém pode me explicar pra onde viaja a nossa consciência quando o assunto é amor? A gente vive, se entrega, chora, implora... tudo em nome de um pseudo-amor que se acha digno de justificar todas as sandices.
Está decidido, você não vai mais ligar, excluiu dos seus contatos e de todas as redes sociais. Aí o FDP (desculpa ex futura sogra, mas é isso que ele é) aparece de surpresa, lindo, usando aquela calça que você deu no último aniversário, te leva meia dúzia de bombons e... (a sua lingerie bege não faz a menor diferença nessa hora). Que ódio!
O fato dear é que tudo retorna a seu eixo, personalidade não muda. Uma vez cafa, sempre cafa. Você tem duas escolhas: aceitar ou se mandar.
Dar murro em ponta de faca não caleja, e sim machuca, fere mais. Se dispor a sentir dor não é coragem, é burrice. O número de vezes que disser "sim" será infinitamente menor ao número de vezes em que cair em prantos embaixo do chuveiro.
Partir pra outra? Não, partir pra si. Quanto tempo da sua vida você viveu feliz sem conhece-lo? Não parece insano agora você simplesmente não conseguir sorrir quando ele não liga? Viver pelo outro é um erro letal às relações humanas. Viva pra você! Sorria pelo seu trabalho, pelas pessoas queridas ao redor, por seu corpo no espelho. O brilho vem de dentro. Baste-se. O amor só é bem vindo quando vem pra acrescentar, somar coisas boas. Se ele tira a alegria, o sono, a vida... não pode ser coisa boa, não pode ser amor bom. E amor ruim minha amiga, basta o que a gente tem pelo terapeuta.

segunda-feira, 14 de março de 2011

A você...

Ao seu sussurro, meu arrepio
À sua boca, meu beijo
Ao seu toque, meu suspiro
Ao seu corpo, meu desejo.

À sua partida, minha tristeza
À sua presença, minha felicidade
À sua dúvida, meu medo
À sua ausência, minha saudade.

Aos seus surtos, meu desespero
À sua frieza, minha dor
Aos seus carinhos, meu sorriso
Ao seu coração, meu amor.

quarta-feira, 9 de março de 2011

Os fantasmas.

Acordara exausta. Passara a noite lutando em seus pesadelos, contra seus fantasmas. Depois de muito tempo, as sombras do passado regressaram para atordoá-la. Dolorosas lembranças voltaram da escuridão para mostrar-lhe o quanto um dia foi frágil. E por mais forte que houvera se tornado através de tal sofrimento, tais lembranças funcionavam como criptonita para sua força. O gosto do passado de terror de volta era amargo demais, sentira grande revolta e sede imensa de justiça. Embora Deus já houvesse se encarregado da justiça natural, sentira ainda muito ódio e muito medo. Medo de nunca conseguir se libertar desses monstros que a faziam tão mal. Passara tanto tempo sem se lembrar. Apenas por uma cena de filme e tudo volta a vida como sangue fresco de uma ferida aberta. Agonizando por clemência e implorando por cicatrização. Choro, soluços, asco, desprezo. Sensações ruins causadas apenas por imagens. Demônios antigos que pensara estarem mortos, mas que ainda respiravam em sua mente. Gritava de raiva e rangia os dentes por ainda lembrar. Comprimia o ar na tentativa desesperada de esquecer. Mas a vida estava ali, não era possível arrancar um pedaço e atirar no abismo. Tais cenas sombrias a acompanhariam até o fim. E suplicara ao coração que se aquietasse, e à cabeça que não pensasse. Pois a maior vingança por tanta dor causada deveria ser a vida. Bem vivida. E vivera. Sem olhar para trás, fechara os olhos e pedira ajuda a si mesma quando os fantasmas aproximavam-se. Aquelas criaturas malígnas eram da escuridão. Ela não. E com os olhos ainda inchados e a respiração estafada, caminhara em direção à luz. Um dia, houvera de avistar algum ponto de luz...

sábado, 5 de março de 2011

O sabor da saudade.

Qual o sabor da saudade? Amargo, quando vem com a certeza de que não irá mais voltar. Azedo quando acompanha mágoas. Salgado, de secar a boca, quando se tem desejo. Doce, quando há boas lembranças e se sabe que a distância será breve.
E como é bom matar a saudade! Reparar cada detalhe novamente. Tatear todas as partes esquecidas. Saborear cada pedacinho com vontade, com pressa, querer que aquele momento se perpetue pra sempre. Olhar fixamente nos olhos e entender porque a distância causa tanta dor. Sentir o cheiro e respirar fundo, abraçar apertado, como se os braços fossem capazes de nunca mais permitir a partida. Sorrir e sorrir muito, transformando aquele instante no mais feliz do mundo. As energias se renovam. As forças se multiplicam. Matar a saudade é a cura pra muitos males. O coração acelera, as lágrimas caem. A voz causa arrepios. E a certeza de que essa saudade, tão doída, tão sofrida, contribuiu pra espandir ainda mais um sentimento. Não há quem admita que sentir saudades é bom. Mas a sensação de êxtase causada no momento do reencontro é incomparável. Maximiza a vontade, nos faz mais tolerantes. Não há tempo a perder com bobagens. Só o desejo de sentir de novo. O sabor da saudade não importa. O relevante mesmo, é o gosto do reencontro. E esse, é aquele que sempre deixa no final o sabor de "quero mais".

sexta-feira, 4 de março de 2011

Esquecer?

Você decide parar de sofrer e esquecer de uma vez por todas aquele vacilão que não te deu valor. Compra um vestido novo. Se arruma e sai para matar. Toma aquele porre libertador. Até paquera o gatinho que não tira os olhos de você.
Então você começa a comparar o gatinho ao infeliz que te fez sofrer... não não e não!!! Tem que esquecer, foco, tem que esquecer. Em vão... você só faz lembrar mais ainda a cada minuto.
Procura uma atividade nova. Mas poxa, seria tão bacana se vocês dois fizessem aquele curso juntos. Viaja. Mas as paisagem lembram tanto ele...
Lê um livro. E passa a achar que o autor sabia de cada episódio da sua história. Caramba, foi escrito pra você, só pode! 
E quanto maior a força que você faz pra esquecer, maior o desejo de tê-lo por perto. E você sofre em dobro, em triplo.
E se você se der o direito de não tentar esquecer? Ninguém deixa de gostar de alguém no automático, como uma programação de software. Se permita lembrar, chorar, sentir saudade. É um machucado e não há como fazer sarar de uma vez. Tem seu tempo. E com o tempo você aprende a conviver com essa ferida, se acostumar com ela. Até não doer mais e cicatrizar. E de tão acostumada a ela, um dia você nem se lembrará mais da dor, talvez não se lembre nem ao menos de como se machucou...

quarta-feira, 2 de março de 2011

É seu...

Pega meu coração pra você. Leva. É seu. Ele não quer mais saber de mim, não liga mais pro meu bem. Ele só quer você. Pega. É como um filho ingrato que eu sempre cuidei e agora quer fugir. Ele quer ir com você.
Leva. Leva porque agora ele é seu. Quer ficar com você. Mas toma cuidado por favor, é o único que eu tenho e morro de medo de acontecer alguma coisa ruim com ele. É meu bem mais valioso. Cuida direitinho.
Não machuca ele não. Essas cicatrizes são de outros tombos que ele levou. É, ele já sofreu um bocado. E agora cismou que quer você. Então leva. Carrega ele nas suas coisas. Balança. Nina. Trata ele com carinho, por favor. Ele é frágil, sangra fácil. Você vai saber cuidar?
Não precisa se preocupar em me devolver. Aliás, não é possível uma devolução dessas sem lágrimas. E eu não quero que ele chore. Fica com ele e faça-o feliz.
A única coisa que ele precisa pra ser feliz é amor. Dá bastante amor pra ele. Faz ele feliz por favor. Porque sozinha eu já não consigo mais. Ele precisa de você. Leva. Leva meu coração com você. E faz ele voltar a bater contente. Faz ele disparar de novo. Eu não posso fazer isso. Ele quer você. Pega ele pra você. Ele é seu. Leva meu coração com você, leva...

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

O amor exige coragem.

Mais do que coragem pra dizer o que pensa a seu chefe. Pra pedir demissão daquele emprego "maravilhoso" e abrir um negócio próprio. Mais do que coragem pra admitir querer ser mãe solteira ou trancar a faculdade e viajar pelo mundo...
Você precisa de coragem pra amar. Coragem pra passar por cima do que os outros pensam. Coragem pra engolir um pouco do seu orgulho. Pra afirmar que você encontrou a pessoa da sua vida (pelo menos nesse momento) e admitir não conseguir viver sem ela. Claro que você consegue viver, mas que a vida fica bem melhor com essa pessoa do lado, ahh... isso fica.
Ter coragem pra assumir erros. Pra pedir perdão. Coragem de ligar quando se tem vontade e não ligar quando não tem. Coragem de dizer "eu te amo". De mandar mensagens românticas (e breguinhas). De escrever um poema. Coragem pra dizer "fica mais". Pra dizer "quero você". Ter coragem de admitir que ele é um mané e que você adora. Mandar letras de músicas sem medo de parecer cafona. Coragem pra ser cafona.
Ter coragem pra amar é chorar no colo dela sem receio de parecer um fraco. De dividir os problemas e pedir opinião, ajuda. Ter coragem de aparecer de surpresa com um presente lindo, ou só um bombom, ou só você. Coragem de divergir, de discutir. Coragem de olhar dentro dos olhos. De ouvir. Coragem pra deixar ser livre. Pra ter a segurança que essa pessoa volta, se o amor dela for seu de verdade. Coragem de correr riscos. De se jogar sem medo de cair. Ter coragem até pra admitir que é amor. Ter muito peito, muita audácia, muita força. O AMOR EXIGE CORAGEM... e isso... é para poucos.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Na sacada

Sabe de uma coisa? Fiquei muito tempo olhando pela sacada pra ver se você aparecia. Me acostumei tanto com com o enquadramento daquela visão que parecia isso mesmo, um quadro. Estático. Todos os dias as mesmas coisas, as mesmas pessoas, os mesmos carros. Parecia até que no final da tarde o cinza era exatamente igual... sempre. Havia até decorado aquela música infernal que umas crianças cantam na praça da esquina. E eu não saía da sacada. Esperando você passar. Esperando um pouco de cor pro meu dia, um pouco de cheiro pra sentir. Mas você não passava. Nunca. E eu fui percebendo quantos carros diferentes tem nessa cidade. E que o final da tarde às vezes é alaranjado. Reparei que pessoas distintas passeiam em vários momentos do dia, e dão risadas, e brigam. Até aprendi a gostar da música das crianças. Passei também a notar o cheiro da comida do apartamento de cima no início da noite. O quadro estático enfim movimenta-se. Ficar na sacada observando a vida lá fora se tornou mais interessante do que esperar você passar. De repente, esperar você passar se tornou um detalhe. E são tantas coisas pra observar que talvez o dia em que você resolver passar, eu esteja muito distraída vendo a cor do pôr do sol...

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Fada das letras

Foi num dia escuro que ela me visitou pela primeira vez. Há muitos anos. Nós tivemos uma relação bem chegada durante um tempo, mas um choque nos afastou. E permanecemos assim.
Eu cresci, virei mulher adulta e excessivamente racional. Quando numa encruzilhada de tormentos, ela voltou. E me trouxe esperança.
Eu me sinto protegida quando ela vem. Sabe a sensação de que você pode tudo? Com ela aqui eu posso tudo. Até inventar que dores minhas não são minhas. Até criar finais felizes...
Ela? A Fada das Letras. Ela me pega pelas mãos e dá vida independente às pontas dos meus dedos. Com ela presente eu não fico sozinha. Mesmo de madrugada, que aliás, é seu momento preferido.
Ela me ajuda a não explodir. Ela me ajuda a explodir o mundo. E com ela eu tenho coragem de dizer tudo. Inclusive o que não existiu. Só ela é capaz de tirar de mim segredos obscuros e os desejos mais secretos. Ela me incentiva a pôr pra fora a dor do peito. Pra cicatrizar mais rápido. Com ela consigo até ser engraçadinha de vez em quando, afinal a vida também precisa de um pouco de risada, né?
A Fada das Letras às vezes some. Mas a nossa relação é tão segura que eu não me desespero. Sei que ela volta. E volta arrebatadora me destruindo por dentro. Fazendo libertar o que sem ela seria impossível... e me faz chorar. Muito. Como agora, por exemplo. Ela sabe que me faz sofrer por escrever certas coisas, mas ela faz mesmo assim. Deve ser pro meu bem, eu acho. Tipo mãe, sabe?
Inventamos amores e dores. Ela entende que minha vida é bem menos interessante que a dos meus personagens, e que eu não gosto de histórias sem finais felizes. Então eu invento. Invento que eu sinto, que eu sofro, que eu choro, que eu amo... E depois invento que eu inventei tudo isso. Só pra parecer forte.
E quando ela vai, levando consigo uma tonelada de não-sei-o-quê, me sinto mais leve. Não menos triste, nem mais feliz. Mas, serena, aliviada. Com menos vontade puxar o gatilho e mais vontade de viver pra mim. E pra ela também, que na verdade deve fazer parte de mim. A parte mais insana e mais provocante. A Fada das Letras.