Foram 12 meses de preparativos. Sapatos, agência de viagem,
música do cortejo, as “lágrimas de alegria” feitas em corte a laser que ele
quase não me deixou comprar. Mas eram tão lindas! Três últimos meses, correria
apertada, lista de presentes, degustações, convites (explicando a ele porque
fazer isso novamente, visto que o ‘save
the date’ não serve para convidar). Não dava tempo pra nada. Respirávamos o
grande dia. Ele foi guerreiro, suportando minhas crises de choro e ataques de
nervos (vocês têm noção que o papel de seda nude dos doces não chegaria a tempo
para a festa?). Eu também fui bem compreensiva ao concordar com aquela cor de
terno. Ele ficaria muito mais lindo no chumbo do que no cinza-médio-noite, mas
casamento é isso não é? Vamos treinando as divergências.
Na última semana, tentava convencer meu sistema imunológico que
seria bacana eu comparecer sem um balão de oxigênio acoplado ao vestido, ao
mesmo tempo em que degustava as unhas postiças vendidas a preço de córneas,
para meu dia de princesa. Enquanto isso ele cortou o cabelo e foi comprar a
gravata com um amigo. Com toda aquela despretensão irritante que os homens
insistem ter.
Correu tudo bem. Corremos. Bebemos e sorrimos muito. Quando
acordamos já era dia – ou quase noite do outro dia – ele com o sapato Armani
dentro no copo de whisky e meu véu por algum acaso enfeitava o frigobar.
Durante um tempo vivemos a ressaca da festa de casamento. Trocas
de presentes, viagens, escolha das fotos para o álbum, dicas para as amigas
noivas, novos porta-retratos, gente conhecendo o apê, marcações de postagens
dos amigos a cada minuto com a nossa hashtag.
E de repente, somos só nós dois. Naquela sala imensa, em
frente o delicioso sofá (presente dos tios dele), só ele e eu respirando fundo
pela primeira vez. Sem compromissos urgentes, nem obrigações indecisas. Era
nossa casa, grande e vazia de preparativos. O lustre já estava perfeitamente
alinhado ao espelho da mesa de jantar. E olhando para o tapete macio onde
sentávamos descalços, ele arremessou: “Valeu a pena?”
Solucei alto, passeando entre a angústia e o alívio, e só
consegui deitar a cabeça naquele emaranhado de pelos - tão quentes e tão
momentaneamente meus. Pensei na rotina, nos pratos sujos, na futura conta da
internet, nos roncos, nos cafés da manhã, nos banhos, nas risadas no intervalo
da novela, nos abraços vespertinos, no cheiro dele no travesseiro, naquele
emaranhado de pelos... e tudo se repetiria, e de novo, e de novo.
“Sim. Valeu.”
*texto feito para a Revista Noivos